A somar à contradição que cada um de nós é, por nascimento, sobrevivência e testamento, e como se não bastasse, estamos a viver, um tanto inesperadamente, uma era de contradições que parecem sem fim. Há por aí uns líricos que dizem que não. Dizem que a coisa passa ou vai passar. Que a confusão a grassar cada vez mais em grandes e decisivas regiões do planeta, não a área definida pelo código postal que habitamos, muito menos afeta a minha rua, a minha casa, o meu quintalinho. As contradições existem todas lá muito longe, lá fora, com gente que não se cruza com os meus primos, os meus vizinhos, os chefes da terra, os donos dos arredores. Mesmo que o Algarve não passe dessa rua, dessa casa, desse quintalinho.
Senão vejamos. Ainda há escassos meses, os mais distraídos mas também beneficiados pelo turismo de massas, não admitiam que tal situação se alterasse, jurando que o futuro estava garantido sempre com mais gente em festa e mais festas para a gente. Desdenhavam de quem fizesse algum ligeiro e leve aviso para a eventualidade de algum estremeção inesperado. Agora que o estremeção a todos surpreendeu, bastando este pequeno estremeção para deixar bem provado que o Algarve não sobrevive confinado à sua rua de 16 casas e nem todas com quintalinho, são raros os que ousam estar contra o turismo de massas, contra o regresso dos aviões atrás de aviões, contra o impacto de mil aterragens no cordão dunar alí mesmo à beira, contra as procissões de gente que vai e vem e que enquanto não vai depois de nem chegar a vir, pouco ou nada acrescentam ao quintalinho, antes pelo contrário.
Então queremos ou não o turismo de massas? Há quem diga que não, sem conhecer ou sem pensar nas consequências da falta de massas. Há quem diga que sim, até porque o seu código postal de residência não coincide com o seu código de domicílio fiscal. E mais complexo e mais contraditório ainda, quando os códigos postal e fiscal não têm relação direta e útil com o código de telhado político, havendo também telhados culturais, de ensino, telhados médicos, de engenharia e de barro.
Pobre Algarve que assim não consegues reunir-te sequer para discutir o teu futuro.
Flagrante vacina: Fia-te na Virgem, não corras, e vais ver o trambolhão que levas.
Carlos Albino