SMS: A favelização do Algarve – Cap. 2

Na base da favelização do Algarve está um negócio sórdido. Experimente arrumar o carro na berma da Estrada 125 e a dirigir-se a um stand de vendas de pré-fabricados. Pergunte quanto custa uma casa de uma espécie de madeira e plástico para colocar num terreno que comprou algures. O vendedor, solícito, mostrará com gosto. Há casas para vários preços e gostos. Ajustado um preço, vai-se para pormenores. – E tem dificuldade de montagem? Resposta – Nenhuma. Nós mesmos nos encarregamos de aplainar o terreno onde o senhor quiser colocar este dispositivo. – E a instalação? – Não tem problema, nós nos encarregamos de tudo.

Então não precisa de infraestrutura, fossa, água corrente, eletricidade? – Não precisa de nada. O senhor paga, nós montamos e depois logo se vê. Em todo o caso será conveniente que requisite à EDP uma baixada, com um contador basta. – Mas a EDP faz ligação à rede sem haver licenciamento? – Fazem. É só pedir. Não precisa de falar em furo para captar água, nem de moradia, nada. É pedir e basta, que eles ligam. Seja qual for o terreno. – É assim fácil como num acampamento na praia? – Tal e qual. – E o transporte, quem o faz? – Nós. Nós temos uma equipa que se encarrega de tudo. Um carro vai à frente, com vários funcionários com moto-serra em punho, e se encontrarmos um obstáculo, ultrapassamo-lo. Sempre para a frente, para a frente é que é caminho. – Árvores? – Abatem–se. Ramos? – Cortam-se. Para não haver problema, vai um carro atrás e recolhe logo. – Fios eléctricos? – Leva-se uns paus, levantam-se. O que é preciso é a sua casa passar. – E não há problema legal? Legislação impeditiva? Para construir uma casa de alvenaria, o licenciamento demora uns anos… – Por isso mesmo, este material é só vantagem. Qual licenciamento! Não precisa de documentos, nem leis, nem advogados, nada. Depois de instalado, peguem-me na sola dos meus sapatos. – E a GNR não pode aparecer? – Pode, mas cá nos arranjaremos. Eles não vão ficar de plantão durante o tempo todo. Têm de almoçar, jantar, socorrer pessoas, roubos, assaltos. Nós esperamos que eles desapareçam, e mal dêem de costas, voltamos a avançar. De noite faz-se muito bem. Montamos pré-fabricados isolados e se for necessário, aldeias inteiras.

Os senhores devem ganhar um bom dinheiro com este negócio. – Alguma coisinha. Por semana, nós aqui, vendemos uma média de três unidades. Quinze por mês. E vai ser sempre a abrir, sempre a abrir. – Muito obrigado. Volto mais tarde. – Volte rápido. Se tem terreno, pequeno ou grande, força que fazemos o resto. Ganhámos muita experiência em França… E note que vai conseguir a recuperação do que vai investir em pouco tempo.

E é assim. A primeira grande tragédia urbanística do Algarve começou com as Torres de Alvor, obra de gente de fora. Quem não está enterrado, já nem se recorda, mas de modo geral os “algarvios”, de há 30, 40 anos a esta parte, têm sido apontados como os culpados do caos de torre atrás de torre, de torre junto de torre. E a segunda grande tragédia está a nascer à frente dos olhos das juntas de freguesia, das câmaras municipais e do Estado. Por enquanto, os algarvios ainda não são os culpados, mas não tardará.

Flagrante piada: Imensa, enorme piada têm os que fizeram o pior no Algarve, e, agora, nas suas terras de origem temem que aí surja “um novo Algarve”…

Carlos Albino

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