SMS: A magia do inglês…

Já lá vai o tempo em que, quando um grupo de ingleses falava em voz alta, os portugueses ao lado baixavam a voz. Anos sessenta, setenta, e ainda a década de oitenta. Essa ideia de que o inglês trazia consigo uma língua marca de uma cultura que havia interpretado um papel libertador na Segunda Guerra Mundial ainda estava muito presente e corria entre nós, mais que não fosse de se ouvir dizer. A Inglaterra, designação genérica para tudo que se referisse ao Reino Unido, ou Grã–Bretanha, era vista como território de elite, pátria da democracia, civilização que havia criado os grande jornais, a televisão britânica, BBC, que nos anos cinquenta criara a pauta mais elevada para as televisões europeias, universidades de prestígio, instituições invejáveis como o sistema de saúde britânico, onde o SNS português encontrou inspiração, e por aí adiante. Chegavam os ingleses aos hotéis, às praias, aos restaurantes? Os portugueses respeitavam-nos. A língua inglesa era o símbolo de um mundo que mostrava distinção, cultura. As guerras do final século passado, que haviam estado na origem do Mapa-Cor-de Rosa, e tinham inspirado a criação do Hino Nacional Português, eram detalhes históricos que a convivialidade contemporânea havia apagado. Nesse hino, a palavra final “bretões” tinha há muito sido substituída por “canhões”. Depois desse esquecimento consumado e após um auge, também a pouco e pouco, a magia da língua inglesa como sinal de superioridade cultural foi-se apagando. No Algarve – que mantém um jornal regional bem feityo par o que é, The Algarve Resident – as bancas dos jornais foram-se enchendo do pior que a imprensa inglesa pode criar – The Sun, The Mirror, Thr Daily Mail, The Express… É claro que também se pode encontrar, aqui e ali, The Guardian, The Independent, The Daily Telegraph… Nas mãos dos ingleses que por aqui passam ou residem, aqueles mais do que estes. A dar uma indicação do que se passa também nas redes sociais, e estas, por sua vez, a darem pistas sobre a altura dos que se cruzam connosco nas ruas ou se sentam ao nosso lado nas esplanadas quando não têm o recurso defensivo do distanciamento que nada tem a ver com pandemias. E é então que se tem a prova do mais baixo calão e da mais torpe mentalidade tão distante já da língua mágica que outrora nos fascinou como exemplo de elevação cultural e civilizacional. Falam em voz alta, e, agora, ouvir o que dizem, em bom português, é uma desgraça. E segui-los nas redes sociais, comentando os mais diversos e sensíveis assuntos portugueses, desgraça é. Perdem rapidamente a noção de quem os recebe como vizinhos ou os acolhe como parceiros e poucos se apercebem de que já perderam o uso de uma língua mágica. Assim não dá. E contagiam.

Flagrante mudança de interesses: Começou a época em que uns perdem inesperadamente os números de telefones enquanto outros são os telefones que os fazem perdidos.

Carlos Albino

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