SMS: A Marcha das palmas felizes

LP
LPhttps://www.jornaldoalgarve.pt
Colaboradora. Designer.

Para a jovem Constança
O Concerto de Ano Novo da Orquestra Filarmónica de Viena transmitido no passado dia 1 de Janeiro, para um bilião de espectadores em torno da Terra, dirigido pelo maestro Christian Thielemamn, e como sempre incorporando valsas da família Strauss, terminou como usualmente, pela execução da célebre Marcha Radetzky, aquela em que a assistência bate palmas até lhe doerem os pulsos. É um momento feliz para todos. No concerto transmitido a partir de Viena, dava para ver como os vienenses sabem em que momento devem acompanhar o compasso binário com as palmas ao alto, e quando apenas devem fazer o gesto para respeitar o andamento baixo. Tudo isso resultou, este ano, maravilhosamente executado pela orquestra e pelo público em Viena. Foi um prazer ouvi-los.

À nossa dimensão, aqui no Algarve, no Cine-Teatro de Loulé, o concerto executado pela Orquestra do Sul também terminou pela Marcha Radetzsky, mas a maestrina Joanna Slusarczyc, ou por ser muito jovem ou suficientemente polaca, não conseguiu interagir com o público. Na sala, ninguém sabia muito bem quando devia e não devia bater as palmas. E no final, quando um pequeno grupo quis identificar a marcha, ninguém se lembrava de que marcha se tratava. Mas todos associavam aquele galope glorioso ao anúncio feliz de que o Novo Ano irá, por certo, ser próspero. Se assim é, assim deve continuar a ser. Para quê saber mais?
Para quê saber que, afinal o Concerto de Ano Novo tão maravilhoso que atinge um bilião de ouvintes, foi uma pura criação nazi? Que se iniciou em 1939, como forma de angariar fundos para o esforço de guerra alemão, chamado Auxílio de Inverno, operação proposta pelo maestro Clemens Krauss, que Joseph Goebbels, o ministro de propaganda ao serviço de Hitler, aceitou? Aliás, acaso o anterior regente da orquestra não se tinha corajosamente demitido em protesto contra o regime nazi? Nos tempos que correm, em que os nacionalismos ferozes parecem ter de novo voltado, não é bom sublinhar estes factos que estão enterrados debaixo da alegria que nos dá o Concerto de Ano Novo.

E se quiserem saber – não sei se é bom saber – a célebre Marcha Radetsky, também da autoria de J. Strauss, só foi integrada no Concerto de Ano Novo em 1958, para celebrar as vitórias do marechal-de-campo austríaco Joseph Radetzky von Radetz e que por isso ficou com esse nome, mas a marcha fora composta em 1848, na altura em que esse célebre cabo-de-guerra conduzia ferozmente a repressão sobre os liberais do seu país. Quando agora, batemos palmas e nos alegramos, não sabemos o que estamos a aplaudir. Só reconhecemos a alegria e exaltamo-nos com ela. Esqueçamos os nacionalismos e as repressões que de novo estão no horizonte. Batamos palmas inocentes, felizes, pelo Ano Bom que há-de vir.

Constança, lembra-te disto.

Flagrante restaurante: Chama-se «A Sala», fica em frente do Parlamento, porta número 11, antiga mercearia de Lisboa. Comidas e bebidas algarvias, gente algarvia, e muito mais – música, banda desenhada, cinema, jogos… Passa a ser sítio obrigatório.

Carlos Albino

Deixe um comentário

Exclusivos

Autarca de Tavira garante que Plano de mobilidade tem “as melhores soluções”

O estudo do Plano de Mobilidade Sustentável da cidade de Tavira, encomendado em 2019...

Extrema-direita é primeira força política na região

A vitória do Chega no distrito de Faro, com 27,19% dos votos, foi a...

Água lançada ao mar pelo Alqueva daria para encher barragens algarvias

A Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), com sede em Beja, anunciava...

As expetativas dos algarvios para as eleições legislativas

As perguntas Quais são as expetativas que tem para estas eleições legislativas? Tem acompanhado os debates?...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.