SMS: A outra pandemia que nos vai desgraçando

Assunto que atravessa militantes de todas as correntes de opinião, atravessa os missionários de meia tigela que julgam salvar o mundo, que atravessa especialistas em tudo e generalistas em nada, que atravessa moralistas sem moral e liberais sem liberalidade. Atravessa sem pudor tudo e cada vez mais. Não são necessários testes, está à vista desarmada.

E não é preciso declarar emergência? É inútil. Será caso de termos que entrar em estado de alerta? Sem eficácia. E se elevarmos o nível das medidas para o de contingência? O vírus resiste, multiplica-se, aumenta a imprevisibilidade. Quer isso dizer que não há que hesitar em se decretar situação de calamidade? Para quê? Pior a emenda que o soneto. E a emergência não resolve? Não vale a pena chamar nomes a esse vírus que nos vai desgraçando. Inútil também apontar esse termómetro em jeito de pistola para a cabeça do eventual contagiado. De que se trata afinal?

Trata-se do pior que pode acontecer numa sociedade – é o bicho desavergonhado e devasso que faz com que um indivíduo, pessoa ou sujeito, tanto faz, julgue que tem toda e mais alguma sabedoria à nascença. Desconhece-se se essa espécie outrora era rara ou abundante. E desconhece-se porque, tal espécie que normalmente se julga eterna, também morre. Não sobram testemunhas vivos do quem terão sido, do quanto terão enganado, de como não passando de velhacos passaram por probos, íntegros, honrados e imaculados. Hoje, tal gente, está à nossa volta, espreita, ataca, intromete-se e faz da ignorância uma honra.

Sabe-se apenas seguramente que outrora tal gente apenas se contagiava alegremente nas tabernas ou nas ruas esconsas, de preferência à noite, longe da escola, longe da biblioteca, do jornal, da cultura e, já agora, da liberdade. Hoje, não. Essa gente tem a sua própria biblioteca, a sua escola, a sua cultura, e, não precisando muito da liberdade, basta-lhe a libertinagem, e não precisando da palavra séria e culta, serve-se do insulto, da grosseria, do ataque soez, numa palavra, da traição.

Essa gente não precisa do teatro – a rede social, transformada e usada como rede antissocial, é o seu teatro. Nem precisa da política – a facada nas costas é o seu modelo de convivência. Nem precisa de eleições – estão naturalmente eleitos e tanto mais quanto o seu teatro contagia, e quantas mais facadas nas costas conseguem desferir.

É uma pandemia. E vai de extremo a extremo, coitados.

Flagrante rosa-dos-ventos: Outrora havia o norte, o sul, o este e o oeste que dava nome aos ventos e ventanias. Hoje é a Bárbara, a Paulette, a Sally, etc.

Carlos Albino

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