Foi Henri Bergson quem definiu o homem como o animal que ri. Hoje em dia é perigoso usar a palavra homem como designação que inclua homens e mulheres. De modo que dizer que o ser humano é o animal que ri não soa muito bem, mas há que ir com os tempos, de outro modo as feministas não nos perdoariam. Pelo meu lado, acho que a linguagem tem género embora não tenha sexo, mas como as feministas têm razão em tanta coisa, consintamos, pois – O homem e a mulher são animais que riem.
Vem o riso a propósito dos dias tristes que atravessamos, com os hotéis fechados, os móveis tapados com panos, as cozinhas e as copas trancadas, as piscinas esvaziadas pela primeira vez desde que foram construídas. Calculamos como estão os olhos dos empresários e dos funcionários, imaginamos o que se está a passar na vida das pessoas que viram no Algarve um lugar de progresso e de convívio de gente de todo o mundo, e agora vê os sonhos abalados, se não para sempre, pelo menos por algum tempo. A coisa é séria. A recuperação é séria, o confinamento e o desconfinamento são coisas muito sérias.
Então o que dá vontade de rir? Para não usar o verbo oposto, dá vontade de rir a forma esquiva como os responsáveis do governo, sobretudo figuras secundárias mas protegidas, nunca dizem enganámo-nos, fizemos mal, deveríamos ter apertado o confinamento, pedimos desculpa. Ficaria bem, seria um bom recado. Não acontece, e é pena, e por vezes dá vontade de rir. Mas ainda mais vontade de rir dá, quando se vê, dirigentes de partidos que se esmiuçavam no Parlamento a gritar contra tudo, confinamento, desconfinamento, fases, escolas, restaurantes, o que era preciso era estar contra, ficarem agora contra e não se sabe bem contra o quê. Estão simplesmente indignados, de cara severa e mão em riste, em cada dedo uma vara. É triste porque tudo isto vem dizer que o jogo da política, cada vez mais se baseia na estratégia e não na verdade.
Foi por isso que pensei reproduzir uma piada que anda a correr por aí, mas que pode não chegar a todos. E todos precisamos de rir. É sobre o desconfinamento, proveniente de uma DGS imaginária. Diz assim:
- – Todos os que veem a CMTV e leem o Correio da Manhã, podem sair sem quaisquer restrições, na segunda-feira.
- – Os que dizem “os portugueses e as portuguesas” podem sair na terça-feira.
- – Os que gostam de ouvir Agir e Conan Osíris são autorizados a sair a partir de quarta-feira.
- – Os que comem tofu, quinoa e alimentos sem glúten ou lactose, podem fazer uma vida normal a partir de quinta-feira.
- – Os que dizem “vistes”, “prontos”, “à séria” e “penso de que”, podem circular sem restrições a partir de sexta-feira.
- – Todos os outros devem continuar confinados em casa, o País precisa deles.
Desculpem se ofendo alguém. Mas o aleatório dá a dimensão da ironia. E sorrir faz bem.
Flagrante escapatória: Bem vistas e apuradas as coisas, quanto mais populista é um dado líder, maior é a sua montanha de ilegalidades e ilicitudes cometidas, quando a política é a escapatória… No Algarve, credo!
Carlos Albino