SMS: Aí vêm 1460 dias de reflexão

Os eleitores, no próximo sábado, vão ter direito a um dia de reflexão. Não é dever, porque o dever de refletir é em todos os dias. E os eleitos? Pois quanto aos eleitos que pelo Algarve serão apenas nove, cada um desses vai ter 1460 dias de reflexão, os quais poderão usar como direito ou como dever. Depende do entendimento que fizerem da função de deputado e também da consciência que dele tenham. Pela experiência do passado, pelas rotinas que se instalaram e por alguns indícios do presente, é duvidoso que usem os quatro anos de mandato para reflexão sobre o que representam, como representam e até quanto são capazes de representar. Mas sejamos optimistas.

Indícios do presente? Indícios, sim. Na generalidade, as listas apresentadas a sufrágio no Algarve, são frágeis. Como se costuma dizer, com honrosas exceções, sendo aconselhável não dizer quais para não se prejudicar o único dia de reflexão dos eleitores, no sábado, e também para não se desmotivar os nove futuros deputados nos 1460 dias em que podem e devem refletir, já agora, sobre os indícios. Indícios de pobreza política, pobreza partidária, pobreza programática, pobreza de perfis. Pobreza da qual os partidos, todos, têm enorme responsabilidade, designadamente as respectivas estruturas regionais e concelhias. Têm responsabilidade, porque, alguns e basta que sejam poucos, na ânsia de controlo da política, bloqueiam a política, boqueiam o próprio partido a que pertencem e bloqueiam-se a si próprios para a tarefa de reflexão.

Todos os programas, sem exceção, apresentados com a seta apontada para o Algarve, são pobres, vagos, alguns construídos sobre reivindicações primárias ou sobre enunciados de problemas sem que sejam acompanhados de soluções credíveis, fundamentadas e sérias, outros redigidos com os verbos no modo infinitivo que é o modo da areia para os olhos, outros ainda que mais parecem ditados pelo tal menino pobre da praia de Monte Gordo de outrora, que dirigindo-se ao menino rico, lhe perguntava – Ó mé m’nine rique, voceia sabe nadar ó quer q’eu o aprenda?

Quanto a perfis, pessoas, experiência ou provas, estamos conversados – salvo honrosas exceções, uma lástima. E é pena que do Algarve saiam para S. Bento, exceções mal acompanhadas.

Para alguns que observam ou mesmo vivem o Algarve político, isto não é de estranhar. Luta irracional entre partidos, do menor ao maior; luta entre facções dentro do mesmo partido, se a maré ainda permite pé; luta entre personalidades com pés de barro; luta por hegemonias de base gentílica; enfim, luta, por certo entre grandes lutadores, mas aos quais, no final de tanta luta, não está destinada qualquer coroa de louros mas tão-somente 1460 de reflexão.

Flagrante hospital: Para ferida tão grave, à espera do Dr. Sulfamidas.

Carlos Albino

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