SMS: Algarve, lugar onde não acontece nada?

Desde há muito que os algarvios se habituaram a ouvir falar da sua terra como que um lugar onde não acontece nada de relevante e onde, portanto, nada justifica fazer obra de peso. Poucos hoje sabem ou se recordam, foi assim com a Universidade – uma universidade no Algarve, para quê? Basta um instituto politécnico e já será demais. E assim foi até com a atividade dominante e que domina excessivamente ou desmedidamente – o Turismo. Hotéis no Algarve, para quê? Quem é que quer vir para cá? E com o Aeroporto, o mesmo se passou. E como não há fome que não dê em fartura, depois foi o que se sabe – torres e mais torres, pouco ou nenhum planeamento, até que tudo ou quase tudo esteja entupido e ocupado por imensa gente honesta, sem dúvida mas sem ligação à terra, desenraizada, com o que daqui social e culturalmente resulta.

E porque o Algarve é lugar onde nada acontece, a autoestrada custou a chegar, a linha férrea ficou na estação do século XIX, não há um porto a que se chame porto, e também por nada no Algarve acontecer, o sistema de comunicação social do País – público ou privado – se alguma coisa por aqui tinha de apresentável, acabou por desandar – a agência noticiosa deixou de ter delegação com redação autónoma, a rádio pública perdeu o estatuto de centro de produção regional e a televisão é o que se sabe, seja ela pública ou privada. Nestas circunstâncias, nem vale a pena falar em ética ou em deontologia – é um contínuo atropelo que, por ser atropelo, não convive bem com a ética e em que a deontologia não interessa que exista.

E, caso que até daria boa comédia se não fosse drama e tragédia, é o que se passa na área da Saúde, designadamente com o tal Hospital Central, etc & tal. Para além das manifestações de autarquias secundárias de que de vez em quando Faro e Portimão dão nota de despique, alguns simulacros de avanço na matéria não evitam que o País, quer se acredite ou não, chegue à convicção firme do seguinte: o Algarve é um lugar onde nada acontece, nem de bem, nem de ma, portanto não existe ou, para conveniência geral, é bom que esteja e permaneça invisível. Até porque os algarvios já estão habituados a isso.

Flagrante tamanho: Se fossem feitos livros brancos sobre atividades, procedimentos e decisões que têm desvirtuado o Algarve, a coleção não caberia no Arquivo Distrital.

Carlos Albino

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