SMS: As comunidades e os silêncios

O Algarve tem várias, muitas comunidades. Umas de residentes que por prestígio rejeitam ser considerados imigrantes internos ou externos, outras de imigrantes para os quais é secundário serem residentes, umas a quem cabe apenas a legenda de trabalhadores, outras que embora pouco ou nada invistam a não ser no consumo, reivindicam o estatuto de investidores, umas que são de islâmicos, outras de anglicanos, luteranos, evangélicos, etc., umas que, com noção do conceito de acolhimento, falam e escrevem em língua portuguesa, outras que vivem e circulam como se isto fosse uma colónia sem língua, umas que formam por cultura grupos fechados, outras que por sobrevivência e instinto de integração são propensas à abertura e ao diálogo sem grande esforço ou cara franzida, umas com jornais próprios, outras apenas com cinema mudo. Há de tudo. E neste tudo, ainda entra um apreciável grupo de gente que ninguém sabe se fazem ou formam uma comunidade – os ciganos. É, no fundo, o novo Algarve multicultural e miscigenado que se vem formando nas últimas décadas. Basta ir a um cemitério para se constatar que, apesar de novo, esse Algarve já vai jazendo com uns ao lado dos outros sem disputa de língua, religião ou possidências. Já entre os vivos, claro que o comportamento, opinião ou atitude de um ou alguns indivíduos de cada comunidade ou grupo, não pode nem deve ser generalizado a todos, nem quem acolhe ou aceita a vizinhança pode ou deve exigir opinião e comportamento. Mas há uma linha que define no mínimo como estranho o silêncio de uma comunidade minoritária sobre problemas graves ou inquietações profundas da Comunidade geral onde é suposto que esteja inserida muito antes da paz dos cemitérios.

É agora conhecido e divulgado o caso das crianças portuguesas arrancadas às mães no Reino Unido, tornando visível uma rede de interesses que, muito próximo do comportamento e possivelmente da opinião dos antigos corsários, envolve médicos, advogados, assistentes sociais e pescadores de subsídios. Naturalmente que não é de pedir à comunidade islâmica do Algarve que rompa o silêncio sobre a matéria, embora também não rompa lá muito sobre matérias inquietantes que levam muitos a cometerem o erro da generalização. Cada uma das várias comunidades tem ou faz o seu silêncio próprio, o que não é grave quando o caso não é grave. Mas no caso das crianças traficadas na Inglaterra por pirataria supostamente legal, é de pedir à comunidade britânica que diga uma palavra, que esboce uma opinião, que faça uma demarcação pública e visível, que se esforce por contrariar uma cultura de suspeição.

E não entramos em pormenores.

Flagrante orçamento participativo: Festivais, animações, celebrações, eventos e outras coisas mais quase sempre municipais mas encomendadas a agências longínquas que não pisam nem conhecem o Algarve, comendo receitas e erário público quando a política se transforma na arte de atirar areia para os olhos, bem vistas as coisas, é um ramento participativo para tais agências.
Carlos Albino

 

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