SMS: As ondas da demagogia

Por essa Europa afora, a demagogia, sem que se esperasse, vai fazendo o seu caminho. Chamam-lhe populismo. Até agora, Portugal parece ter estado imune, não porque tenha sido vacinado contra esse vírus, mas talvez porque tenha faltado oportunidade – vontade não falta a alguns de uma espécie que a história tem dado exemplos inesperados. É aconselhável acautelarmo-nos, antes que seja tarde e até porque sinais não faltam.

Não estamos em eleições e por isso mesmo é oportuno quais são esses sinais. Um deles é a abstenção que não se explica apenas pelo comodismo. O desinteresse está na sua base, e do desinteresse às posições de estar “contra o sistema” vai um passo. O vírus sabe disto e, como todos os vírus, apenas aguarda a oportunidade de contágio.

E logo à partida, a preocupação maior vai para os jovens de modo geral alheios “ao sistema”, distanciados de tudo o que seja participação, debate e escrutínio. Salvo honrosas exceções que podem ser encontradas nas juventudes partidárias “do sistema”, os jovens já entradotes na idade de votar, não aparecem mesmo quando algum premente interesse geral é discutido ou mesmo quando temas de inquestionável bem comum lhes diz directamente respeito. É preocupante. No Algarve, os dados são evidentes, terra a terra. O associativismo está decadente e há muito que entrou na rotina dos subsídios para fins difusos. O debate público não os abarca e quando há debate, o “sistema” parece um lar de idosos sem refrescamento. A leitura deixou de entrar nos hábitos – pouca gente nova se vê com um jornal dobrado na mão ou com um livro com a marca da interrupção. Dizem-me que isto são apenas aparências porque anda tudo online. Não duvido e até aceito que isso seria bom se os dados da participação cívica, da procura do conhecimento, do empenhamento em causas e valores fossem coisas que se vissem e se sentissem, terra a terra.

E não me digam que a culpa deste marasmo – de marasmo se trata, é da escola, dos pais, dos políticos, ou dos próprios jovens. A culpa, nestes casos, morre de solteira,

Pessimismo, dir-me-ão. Se me garantirem que o marasmo não tem o vírus adormecido da demagogia que acorda quando menos se espera, perdoem-me o pessimismo. Gostaria de sentir um Algarve vivo.

Flagrante ausência: Na RTP aí houve um debate acerca dos cães nos restaurantes. Até teria sido uma das melhores comédias se algum cão estivesse presente e tivesse usado o direito da palavra.

Carlos Albino

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