Os velhos relógios de corda continuam a ser uma excelente metáfora para a fábula dos dias que correm. A corda que anima tais relógios tem um tempo de vida e se a força da corda não for renovada, o relógio pára, estancam os ponteiros e o som das horas esvai-se. Assim o nosso organismo, assim a própria sociedade no que tem de animado tal como a cultura, a economia e a educação, assim portanto a política, os partidos e com isto o que se convencionou designar por regime com o seu sistema. A crise de um sistema ou de um regime, na maioria dos casos, resulta da falta de corda que acciona os ponteiros dos partidos, e também da falta de corda que provoca o batido das horas da política. E mal quando os interessados não se apercebem da paragem dos dois mecanismos que estão interligados – ponteiros do tempo e batida das horas.
Castro Marim acaba de ser uma ilustração viva do que se escreveu na semana passada sobre a abstenção, suas causas e não só as conclusões a tirar, como também as que não podem nem devem ser tiradas. Nas eleições europeias de 26 de maio, dos 5.786 inscritos votaram 1.548 – uma abstenção de 73,25%. Os resultados beneficiaram, então, o PS com 37,92% dos votos, ficando o PSD derrotado com 19,77%. Uma semana depois, nas eleições locais antecipadas de 2 de junho, dos 5.849 inscritos votaram 3.265 – uma abstenção de 44,18%. Os resultados beneficiaram, desta vez, o PSD numa parceria pouco significativa com o CDS, que ganhou com 59,82% dos votos, enquanto a lista do PS 34,46%. A balança mexeu pelo acordar de determinados abstencionistas no espaço de oito dias. Este é apenas um exemplo entre outros semelhantes que poderiam ocorrer aqui e ali no Algarve, mas que, de modo geral, deles se pode concluir que a política tem ponteiros parados ou em risco de parar, e os partidos com falta de corda para a batida das horas. Não é apenas este aquele partido, são todos. Não é a política aqui e ali não, é toda ela, levando alguns precipitados mentais a propagar que a crise é do “regime”, ou como se em casa de relojoeiro tudo fosse sinónimo, que a crise é do “sistema”.
A crise é da falta de corda da política e dos partidos no Algarve que ostetam os piores registoa do País, em termos de participação, de quadros, de ousadia e também, não queria dizer mas escrevo, de transparência.
Fica para a próxima.
Flagrante energia: Dia 15 (sábado da próxima semana) é oficialmente apresentado na marina de Vilamoura, com a anunciada presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro catamarã movido exclusivamente a energia solar, fabricado nos estaleiros em Olhão, terra que no século XIX foi a principal armação dos caíques algarvios, a embarcação pioneira e emblemática mas tão, tão esquecida. O estaleiro de Olhão volta ao pioneirismo. Ainda bem. Além disso, olha para o sol. Parabéns a Manuel de Brito, o principal impulsionador do projecto que é já programa.
Carlos Albino