Período perigoso para todos. Para quem está no poder e para quem está em qualquer das oposições, da que já alguma vez foi poder à que não fez estreia da faca e queijo na mão.
Quem está no poder, é levado a deixar de ouvir quem deveria ouvir, decide supondo que os aplausos da véspera amenizam o disparate do dia seguinte, se é que o disparate não foi calculado, e, como é característica dos temos que correm, embriaga-se com as sondagens – umas, mantidas em reserva, outras, públicas para os devidos efeitos.
Para quem está em alguma das oposições, se não tem perspectiva de poder vir a partilhar alguma migalha caída da mesa do poder, é o bota-abaixo, nem as evidências se salvam. Se eventualmente há alguma janela de oportunidade de partilhar ou beneficiar do poder alheio, joga-se na proporção da expectativa.
Em todos, no poder querendo mantê-lo a qualquer preço ou contestando o poder ambicionando-o, é uma situação que, em política, equivalente ao sonambulismo. Ou seja, é um transtorno do sono da política que consiste basicamente em levantar-se da cama da política, andar na política ou praticar algum tipo de atividade política enquanto ainda se está dormindo politicamente. Em termos partidários, o sonambulismo político é um distúrbio do sono de um partido em que as funções motoras dos que lideram, despertam, mas a sua consciência permanece inativa. Trata-se, portanto, de um despertar desequilibrado do cérebro de quem lidera, que leva uns a não ouvirem quem deveriam ouvir, e outros à atitude do bota-abaixo na suposição que são ouvidos.
Quando começa a contagem do calendário eleitoral, o sonambulismo indicia o período mais perigoso para o que nos habituámos a designar e bem, por “sistema”, palavra usada como sinónimo envergonhado de democracia.
Ora, há indícios. E já agora, os sonâmbulos podem atravessar o Guadiana.
Flagrante problema: A dificuldade não é de 365. O problema vai ser no ano bissexto. No dia extra.
Carlos Albino