SMS: Contradição de todos os desejos

Quando não se tem uma escolha firme, assente no debate de ideias, com líderes dos grupos de opinião à vista e com o bem da região e do País na carteira de documentos, chegados a um momento destes com uma crise que ninguém sabe onde vai desembocar e com que proporções, não admira que a irracionalidade ocupe o lugar do bom senso. E contra o vírus da irracionalidade é que não há nem haverá mesmo vacina. Em tempo útil e oportuno não se quis comparar as ideias, fazer e debater a escolha, não se quis traçar um plano, e eis que, quando ou se a irracionalidade bate à porta, é tarde. É tarde e é inútil – todos os desejos se contradizem, a cultura é inculta, a ciência não chove, as necessidades aumentam proporcionalmente inversas à consciência do que se precisa.

O Algarve, esteja compenetrado ou distraído com os efeitos desta pandemia, é um exemplo desse atropelo de desejos contraditórios que matam a região no pouco em que pode conseguir estar viva. Tão depressa nos insurgimos contra o turismo de massas e de multidões amorfas ou sem referência, como perante a falta de vivalma desejamos magotes de gente. Cruzamos os braços perante o abandono da agricultura e a entrega dos melhores terrenos para o betão da imobiliária, como nos lamentamos nos muitos e fabulosos hipermercados por não haver um alho que cheire mas sim um alho da cor de calhau vindo da China, ou por na terra da boa laranja ali à mão, apenas haver laranja da África do Sul, do Chile ou de Israel. Tão depressa nos lamentamos com a falta de água e tememos a subida do nível do mar, como saudamos mais golfe, mais agricultura exótica e intensiva, e mais projectos que dentro de poucos anos terão de ser protegidos por diques.

Os nossos desejos, por mais contraditórios que sejam, cabem todos no beco dos afetos do Algarve. Aqui. O sim dá frutos e o não fritos dá.

Claro que estamos a usar apenas imagens simbólicas da realidade que é mais vasta, muito mais vasta. Todos nós conhecemos essa realidade. Advertências não faltaram para que esta realidade fosse evitada. Não se quis. Gastou-se todo o tempo a escolher nomes para listas, gente de confiança para cargos, pessoal de garantia para funções, e para o futuro da região como Região, para o futuro dos seus instrumentos de sobrevivência, talvez tenhamos dedicado dois ou três fugidios segundos mas em dia de eclipse total da política, de eclipse parcial da economia e de eclipse falso da cultura.

Flagrante maravilha: A 125. Para quê votar noutra?

Carlos Albino

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