As listas concorrentes aí estão à vista de tosa a gente. Pouco muda, tudo leva a crer que pouco mudará, e quase de certeza os descrentes continuarão a ser descrentes em número e em qualidade, e os crentes continuarão a acreditar apenas em si próprios como nas favas contadas. São eleições desnecessariamente necessárias como consequência de uma espécie de brincadeira de crianças. E é pena, não me cansarei de repetir.
As listas pouco ou quase nada diferem do que se esperava, os discursos cada vez mais se aproximam dos concursos irracionais das televisões de faca e alguidar, e cada candidato, sempre que abre a boca, julga-se um “famoso” em duas fases – uma, antes, repetindo com ar de esmoler “meu povo, vota em mim que sou a tua salvação”, e outra, depois, apregoando já mais comedidamente “obrigado, meu povo, pela confiança que me deste”. Seguir-se- á então o período mais ou menos longo de afastamento entre eleitores e eleitos, e acabou-se a papa doce. E é pena que assim seja.
Contentes ficarão apenas os descontentes que, nesta lógica, vão aumentando em número até ao número irracional do descontentamento pois nada mais têm na cabeça do que o descontentamento que é a soma das carências da carteira com as carências de barriga. Egoísmo, egocentrismo, etc., é a ideologia desse descontentamento. Ninguém ganha com isto, como se poderia dizer aos bichos da madeira até esgotarem o seu alimento e estoirarem com a madeira toda.
Daí que se tenha que agradecer não ao “meu povo” mas, sim, aos que tudo fizeram para estas eleições desnecessariamente necessárias.
Em todo o caso, há uma conclusão útil, infelizmente conclusão: os partidos, de modo muito especial e visível no Algarve, estão fechados cada um no seu casulo. Ou não têm muito já por onde escolher, ou estão reféns dos poucos que escolhem quem deve ser ou não escolhido. Caminho aberto e largo fica então para os que exploram o descontentamento e apenas o descontentamento e que são essas réplicas humanas das térmitas da política, que tão depressa rezam o terço ao diabo como disparam a raiva contra deus.
Flagrante palavra de ordem: Viva a Incultura!.
Carlos Albino