É dispensável explicar ou justificar. Basta uma só palavra – Ucrânia. E já não adianta nem atrasa longas descrições da história, curtos argumentos sobre culpados, enumeração ou comparação de culpas – o mal já está em muito concretizado e oxalá não culmine numa tragédia da qual não restará muita gente para transmitir a lição. Neste fim de dia em que prometeram chuva para o Algarve, adivinhando-se que só por milagre choverá amanhã, estamos todos cada vez menos crentes nos milagres. Há muito que substituímos a palavra por “feliz coincidência”, “ditoso acaso”, “surpresa inesperada”. Seja como for, desejamos para a Ucrânia um milagre. E um milagre também para os ucranianos algarvios.
Os ucranianos têm sido um dos melhores acrescentos do Algarve. Todas as regiões portuguesas coincidem nesta apreciação na parte e experiência de cada qual. Não há hesitação na solidariedade que destinamos aos ucranianos. E também não hesitamos em deixar claro que o Algarve, no seu conjunto e nas suas parcelas autárquicas, já devia ter manifestado de forma mais intensa, menos retórica e mais concreta, a solidariedade de que se faz exibição. Como se diz pelo dito algarvio, as palavras não têm espinha e a língua não tem osso…
Podíamos não ter um único ucraniano na região que ao Algarve só lhe ficaria bem levar a solidariedade à prática, sobretudo quando não há um único algarvio que não diga que á um humanista convicto. Não é à solidariedade medrosa ou manhosa, aquela solidariedade a que me refiro e que feita a prova dos nove, dá zero de caridadezinha. Refiro-me à solidariedade cuja prova real dá generosidade. Generosidade que leva a que se estenda até onde for possível, aquele verso do nosso grande poeta Casimiro de Brito que concedeu a todo e qualquer desfavorecido o tratamento de irmão – “como tu, meu irmão”. Sim, cidadão como tu, meu irmão.
Pode ser que haja milagre e que percamos o hábito de comer na gaveta.
Flagrante fotografia: Tanta casa abandonada, tanta gente à procura de casa… Em certas e prósperas terras, até parece que houve um bombardeamento.
Carlos Albino