Na madrugada de 25 de julho, Otelo Saraiva de Carvalho morreu no hospital militar de Lisboa aos 84 anos e no dia 28 seguinte foi em cinzas para a sua última morada. Como todos os outros capitães de Abril até agora falecidos, não teve funeral de Estado.
O funeral de estado fica reservado para aqueles que decidem que os capitães que nos deram a liberdade não mereciam funeral de estado. Esses sim, o seu corpo merecerá funeral de estado, mesmo que mais não tenham feito do que administrar o processo político da liberdade que aqueles outros, jovens rapazes, foram capazes de instaurar. Mas. verdadeiramente, é melhor que seja assim.
Estamos, finalmente, perante o quadro da verdade. Otelo, tal como Melo Antunes, Salgueiro Maia, Carlos Fabião e Vítor Alves, por certo que dispensam funerais de estado. Eles foram superiores a esse salamaleque derradeiro. Nós, os que vamos ficando, e, sobretudo os jovens, que não sabem o que foi a Ditadura e o que significou uma Revolução sem sangue, é que ficamos mais pobres. Afinal, a extrema-direita que chegou, e que vem acusar Otelo de ter as mãos com sangue – o que nunca foi provado, nem o próprio alguma vez o admitiu – esses que sim, não têm as mãos com sangue, mas trazem uma mensagem de sangue na cabeça, e ele escorre das suas palavras, esses sempre sobreviveram, sempre esperaram pelo momento que hoje estamos a viver.
A onda de insultos, de incompreensões, de mentiras, de imprecações que a morte de Otelo levantou, significa que em Portugal muitos só aderiram à Revolução porque a democracia lhes iria permitir miná-la. A verdade está à vista. Voltamos o nosso olhar para trás, e agora percebemos porque razão nenhum Capitão de Abril teve ou terá funeral de Estado.
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Carlos Albino