SMS: Eles sabem tudo, não aprendem nada

Já tivemos uma fase, aquela de quando eles comiam tudo e não deixavam nada. Possivelmente houve gente que, tendo muito pouco, comia tudo não deixando nada pelo pouco que tinha. Mas também o contrário, os que comiam sem parar até estoirarem apenas para nada deixar. Houve isso, tal como há e haverá de tudo. Foi a fase da comida, em que “eles” eram os vampiros, o nome da canção de José Afonso gravada em 1963 e que serviu de metáfora, quando “eles” eram eles, inconfundivelmente. A partir dos anos de 80 e 90, gradualmente a comida foi deixando de ser elemento separador, porquanto a liberdade de dizer ultrapassou e foi substituindo a barriga como bitola ou medida.

Hoje a medida é outra. A canção outra será. É percetível que o “eles comem tudo” deve ser substituído por “eles sabem tudo” e que o tal “não deixam nada” deu já lugar ao “não aprendem nada”. Não aprendem nada porque não precisam já de aprender.

Para quê livros? Para quê bibliotecas”? Para quê jornais”? Para quê ler seja em voz alta ou em voz baixa? Para quem sabe tudo, basta-lhe abrir a boca para inundar o mundo de sabedoria, e para quem nada aprende ou não quer aprender nada, basta-lhe dois minutos de televisão, cinco de internet e dez de berraria, para dar pública prova de que sabe tanto ou mais dos que sabem tudo e não precisam de aprender nada, Na verdade, a berraria é o único elemento comum entre os que outrora tudo comiam e os que hoje tudo sabem.

Mas pode-se até dar o caso de os que a gente pensa que tudo sabem, terem razão numa parte do que julgam saber em exclusivo, seja tal parte pequena ou grande. E então, se outrora quem tudo comia, mesmo sem vontade, era para não deixar nada de fora, hoje, para quem tudo sabe o objetivo é pôr tudo cá fora. Os extremos tocam-se. Metaforicamente, nas intenções os vampiros de ontem pouco diferem dos de hoje. Ou seja, a intenção não é corrigir, aprimorar, contribuir para a melhoria. A intenção é ferrar o dente na jugulares, sugar o sangue, matar, trucidar, proclamar a superioridade, qualquer que seja tal superioridade, a começar pela raça dos que julgam que tudo sabem e até convencem alguns outros que nada sabem porque também, pouco a pouco foram perdendo a vontade de saber, de ler, de ir à biblioteca, de terem a modéstia de corrigir, de aprimorar e contribuir para a melhoria da sociedade.

A tomada do poder como único objetivo é a finalidade dos ignorantes que tudo sabem e receiam que haja uns tantos que aprendam e queiram aprender. Entende-se?

Flagrante perda: Sim, faz falta uma representação da sociedade civil algarvia em Lisboa. A que existiu, perdeu-se, mas faz falta.

Carlos Albino

Deixe um comentário

Exclusivos

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de abril

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Professor Horta Correia é referência internacional em Urbanismo e História de Arte

Pedro Pires, técnico superior na Câmara Municipal de Castro Marim e membro do Centro...

O legado do jornal regional que vai além fronteiras

No sábado passado, dia 30 de março, o JORNAL do ALGARVE comemorou o seu...

Noélia Jerónimo: “Cozinho a minha paisagem”

JORNAL do ALGARVE (JA) - Quem é que a ensinou a cozinhar?Noélia Jerónimo (NJ)...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.