SMS: Fonte de Boliqueime, um mistério

Vários mistérios impendem sobre a povoação de Boliqueime. Um deles tem a ver com o seu próprio nome. Existem várias teses sobre a origem de uma designação incomum que a uns soa estranha, a outros cómica, a outros ridícula, mas aos seus naturais soa solene e digna, como a sua Igreja e a sua paisagem de onde, da vastidão, foram recolhidos utensílios, peças de arte, ossadas e vestígios de origem árabe, como os que estiveram expostos recentemente nos Jerónimos (Museu Nacional de Arqueologia). Sobre a origem do nome correm diversas teses, umas assentes em meras lendas ou testemunhos de lendas, outras na intuição, outras ainda na chamada falta de melhor. Deixemos essa questão para ocasião mais adequada. Deixemos que o mistério da toponímia se mantenha no ar. Há outros bem mais urgentes, que não são feitos de teoria, mas de edificação concreta e convém deslindar.


O mistério da Fonte de Boliqueime, por exemplo. Quem por lá passa, e que não seja da zona, apenas encontra mais uma enorme rotunda insalubre, coberta de feno, contígua e a outra rotunda menor, formando um 8, sem semáforos, por largos períodos sem iluminação, mas sobretudo sem a identidade visual que antes da chamada requalificação possuía. Mas para os naturais a situação fia mais fino. Consta que a incúria resulta de um desenten-dimento entre a RAL (Rotas do Algarve Litoral) e a IP (Infraestruturas de Portugal). Lamen-tável. Até quando se manterá o impasse? Seja como for, por vezes, há adiamentos lamentáveis que podem ser aproveitados para esclarecimentos que o tempo traz. E este caso merece-o.


Em primeiro lugar convém que neste intervalo se esclareça a população e os responsáveis, arqueólogos espanhóis, inclusive, que a designação multisecular de FONTE e não de Poço, tem a sua razão de ser na estrutura orológica da zona. Ali jorrava água. Dali saíam ribeiros que se formavam no inverno e escorriam em várias direções, sobretudo na direção nordeste/sudoeste. Isto é, corriam da zona onde se encontra edificado o actual ALDI, para os terrenos que eram mais baixos, onde ainda agora se levantou o recente supermercado LIDL. A dada altura, porém, no passado, para captar a água, no meio desse derrame de escorrências, construiu-se um poço, e os arruamentos circundantes foram escondendo os veios superficiais da água. Mas os construtores actuais sabem bem que, ao construírem na zona, como têm de contar com o isolamento forte contra a invasão das águas! Se as Estradas de Portugal, nos anos sessenta, mudaram o nome de Fonte para Poço, foi por ignorância e desrespeito pela memória física do local e contra a vontade das pessoas da zona que não queriam que a sua fonte se transformasse em poço. É, pois, a hora de rever de uma vez por todas esta questão.

Em segundo lugar, aqui fica uma sugestão. Parece não existir ainda um projecto para a edificação de um memorial ou evocação da Fonte de Boliqueime. Ora uma fonte que jorrava em várias direcções, e se entornava pela terra, não pode ser reproduzida. Se se reproduzir aquilo que marcava o centro da FONTE, poço com a configuração de gargalo e roldana com sua manivela, volta de novo o equívoco da designação. Mas se se construir um jogo de água permanente, em ciclo renovável, uma construção escultórica líquida que indique que ali existiu uma fonte, e que por baixo, na terra, corria e corre em abundância água potável, Boliqueime teria razão para pronunciar mais alto o seu nome, solenemente, dignamente, orgulhosamente.

Flagrante afronta: Essa greve não é greve, é falta de vista e é uma afronta contra quem não é patrão de tais empregados

Carlos Albino

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