SMS: Infelizmente, o elogio da ilha

Por certo que parte do Algarve parou para ver o debate na RTP 3 da semana passada entre os vários candidatos à Presidência da Câmara Municipal de Faro. Faro é a capital do distrito, Faro merece essa deferência simbólica no panorama dos debates nacionais. Faro, portanto, poderia ter surgido como exemplo e metáfora para todo o distrito, e bem se assim tivesse sido. Os algarvios amam a sua capital, mas aberta à modernidade, querem que a cidade mais saliente da região brilhe, mas integrada em novos conceitos de organização do território, e surja em grande plano como ferramenta de cooperação regional e não como cilindro. Mas se existe esse reconhecimento de pertença por parte das populações, durante o debate, o recíproco não foi retribuído. Faro não surgiu a saber defender a sua capitalidade funcional, e o curioso foi que nem uma única voz, de entre os seis concorrentes, falou em sentido contrário. Faro, pela voz dos seus candidatos a autarcas, viu-se a si mesma como uma aldeia que se quer defender das aldeias vizinhas, Faro surgiu na voz dos seus pretendentes como a cidade que pretende safar-se dos seus vizinhos bárbaros.


É evidente que o Algarve se apresenta como um arquipélago, uma série de 16 ilhas em disputa pela notoriedade, sem capacidade de conjugação de esforços, sem capacidade de entendimento e de partilha, sem uma cultura metropolitana, para já nos registos da habitação, da saúde e dos transportes. O Algarve encontra-se entrevado, do ponto de vista do desenvolvimento, do ponto de vista administrativo e do ponto de vista cultural, porque os dezasseis concelhos vivem de fronteiras fechadas. Uma tragédia cujo fim não se vê à vista. Durante este debate, de forma clara, fez-se a prova provada. A certa altura, o debate resvalou para a discussão sobre a forma como travar a saída dos turistas da rotunda do aeroporto e que não comam apenas cachorros, em direção a Olhão ou Lagos. Não foi dito assim, mas foi até dito de forma mais expressiva, pela enumeração do que Faro pode fazer para que, na rotunda dos basbaques, os turistas peçam ao táxi que entrem na direção da capital e aí deixem o seu dinheiro.


Nenhum dos candidatos disse que, na medida em que se compreender que Faro pode ser a cidade que conduza de forma integrada a construção adequada de um Hospital Central no Algarve, seja um metro mais à direita, um metro mais à esquerda, isso é que lhe vale como cidade. Que em vez de exigir que a nova ferrovia lhe passe pelos portais, defenda pelo contrário, que se trace um plano que sirva a Região, sim, mas exigindo ligações de excelência na malha global, de forma a permitir que se transforme numa cidade de vocação universitária, de estudo e de cultura, ganhando um estatuto de cidade de paz numa área metropolitana de paz.

Em vez de tratar dos arredores cada vez mais contíguos e da partilha das infraestruturas procurar a ligação útil com por enquanto inamovível cadeia de hotéis, chamando investimento partilhado e de forma integrada, não, pelo contrário. Falou-se de jardins e jardinzinhos, os mundos pequeninos, as brasas à sua sardinha. E do caos urbanístico, casas e casinhas desencontradas, da sua correção, nada. É de lembrar como há vinte anos atrás Faro se unia para lutar contra o Centro Comercial, esse ladrão que iria roubar a Rua de Santo António. Hoje, a Rua de Santo António se está animada, todos sabem que muito deve à rota que os habitantes e visitantes fazem entre o Fórum Algarve e aquele espaço da cidade que continua a ser um centro de comércio, gastronomia, serviços e algumas iniciativas culturais. Claro que as eleições serão ganhas por um dos seis candidatos, mas pelo que se viu, Faro poderá ganhar alguma coisa, e oxalá ganhe muito, mas a relação com o Algarve de que é capital, chapéu. Eis a grandeza da capitalidade. Eis o exemplo acabado do arquipélago que vai continuar. Ilha à vista é o que nos espera.

Flagrante balanço: Portanto, quanto a redes, tudo bem espremido quanto dá e o que fica?..

Carlos Albino

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