SMS: Isso, assim, até parece um filme mudo

Estranha-se que o anunciado desejo de que Faro venha a ser Capital Europeia da Cultura em 2027, não tenha tido desenvolvimentos de nota. Da parte de quem deveria falar, há silêncio sobre a matéria e, para quem se pronuncie sobre a questão, até parece que se está a assistir a um fita de cinema mudo. Caso o desejo se mantenha, já era tempo de haver movimento, ideias no ar, gente comprometida, manifestação de vontades, projectos e planos. Se o assunto fosse coisa partidária, ainda se compreenderia o segredo dos deuses. Mas sendo coisa da Cidade e, pelos melhores conselhos, coisa que implica a área envolvente que concede a Faro o melhor bilhete de identidade na Europa, não se entende o cinema mudo.

Esteja longe pensar-se que ao sonho farense de capital europeia estaria subjacente algum propósito visando as próximas eleições autárquicas, ou alguma luta entre facções deste ou daquele partido com personalidades autoconvencidas de que são elegíveis. Longe também de se pensar que, quando alguma estratégia que deveria ser apenas da Cidade em consonância com os responsáveis das áreas envolventes e que apenas em conjunto dão credibilidade a quem tente em Faro imitar o voo das cegonhas do Arco da Vila, tal estratégia não passa de dependência ou de apoio condicionado por algum estado-maior de partido. Se é assim para que o filme seja mudo, digam, esclareçam, que ninguém exige a devolução do dinheiro eventualmente pago para bilhete na plateia. Nos tempos que correm, é uma perda de tempo ter que se ler as legendas de um filme mudo sobre Cultura quando esta se apresenta comandada ao sabor de jogadas políticas, seja qual for a natureza de tais jogadas. Se é isto que acontece, ninguém vai longe e muito menos a Cidade dará um passo.

Para isto, não é preciso que Faro vá a Paris como Évora foi a despropósito e com uma comissão “regional” remendada por delegados do Estado que deveriam salvaguardar com dignidade institucional a dimensão das suas funções e competências. Nem é preciso que Faro forme um sindicato de interesses difusos. Basta que fale, diga o que quer e o que pode fazer com os vizinhos que tenham a palavra na boca. Por outras palavras, que não se meta a produzir mais um filme mudo, como já produziu alguns.

Flagrante agradecimento: Ao Governo. Os Algarvios aguentam tudo, o Algarve é que pode não aguentar. Nem é preciso dizer porquê.

 

Carlos Albino

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