Houve um senhor, por acaso português, que nunca foi candidato a deputado e muito menos cooptado para algum governo, mas escrevia sonetos, e que um dia escreveu isto:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Chamava-se, esse senhor, Luís Vaz de Camões, a quem muito agradeço o jeito que me faz ter antecipado com genial perfeição, as palavras que jamais seria capaz de redigir para expressar o que penso. Ah, sim! Habilidades em vez de vontades, desculpa Camões.
Flagrante alteração climática: Não se sabe porquê, mas quanto mais desaparece a água dos rios, das albufeiras e dos poços, mais rios há de dinheiro, albufeiras de dinheiro e poços de dinheiro, até à próxima seca.
Carlos Albino