Miguel Torga há muito explicou o que o Algarve é para quem vem. Quando já está escrito, é dispensável repetir:
O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria. Dentro dele nunca me considero obrigado a nenhum civismo, a nenhuma congeminação telúrica nem humana. Debruço-me a uma varanda de Alportel e apetece-me tudo menos ser responsável e ético. As coisas de Trás-os-Montes tocam-me muito no cerne para eu poder esquecer a solidariedade que devo a quem sofre e a quem sua. E isto repete-se com maior ou menor força no resto de Portugal. Mas, passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros. Sinto-me livre, aliviado e contente, eu que sou a tristeza em pessoa! A brancura dos corpos e das almas, a limpeza das casas e das ruas, e a harmonia dos seres e da paisagem lavam-me da fuligem que se me agarrou aos ossos e clarificam as courelas encardidas que trago no coração.
No fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente dentro da pátria. Também me não vejo fora dela. Julgo-me numa espécie de limbo da imaginação, onde tudo é fácil, belo e primaveril.
Para quem já estava e no Algarve continua a estar, também é verdade que isto não passa de “limbo da imaginação”. E possivelmente o Governo, a partir de Lisboa, assim pensa – o Algarve não está dentro da pátria e também não o vê fora dela. E apenas sente uma “carga nos ombros”, pouco antes das eleições e até pouco depois.
Flagrante conclusão: Os brasileiros residentes no Algarve deram prova do que pensam e possivelmente do que são.
Carlos Albino