SMS: O 25 de Abril e os fantasmas que se levantam

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Tem sido dito e redito que a Revolução de 25 de Abril de 1974 marcou um inicio e serviu de estímulo para as mudanças históricas que ocorreram na Europa e fora dela, no último quartel do século XX. Ainda recentemente, em alguns movimentos Occupy, frequentemente, os cravos da revolução portuguesa, e o som da música que para sempre mais lhe ficará associada, Grândola Vila Morena, eram apresentados como símbolos de movimentos pacíficos. Essa é uma honra que ao longo destes quarenta e cinco anos várias vezes tem sido menorizada, mas agora cada vez mais é valorizada, à medida que o tempo passa, e o balanço está a ser feito por gente distanciada do processo. É o que acontece, por exemplo, com o sociólogo americano, Robert Fishman.

Quem leu a entrevista de Bárbara Reis fez a Robert Fishman, publicada no Público do passado dia de Páscoa, dia 21 de Abril, por certo que encontra aí uma síntese admirável do processo revolucionário português, que permitiu uma mudança na sociedade com as alterações suficientes para que a democracia portuguesa se tivesse desembaraçado sem pingo de saudade dos seus ditadores, do regime de censura, da escravidão no trabalho, da ignorância e da miséria que caracterizavam a sociedade do Estado Novo. Esse ajuste de contas, pacífico, mas real, e não reformista como aconteceu em Espanha, explica, segundo Fishman, que a democracia portuguesa seja inclusiva e a espanhola, que não conheceu uma revolução, mas apenas um processo reformista parlamentar, continue em grande parte dramaticamente saudosa do ditador Franco, e todos se queiram excluir uns aos outros, numa espécie de guerra civil inacabada. Isto é, passados quarenta e cinco anos, por contraste, vemos claro, sabemos que o 25 de Abril ofereceu uma fórmula, e continua a ser uma garantia de paz e entendimento.

Mas existem nuvens no horizonte. Aquilo que o 25 de Abril quis expulsar, parece estar a caminho de querer ressurgir, agora, pela via de um populismo de extrema-direita de que nos julgávamos imunes. Mas não estamos. Também nós, com molhos de cravos ao colo, à semelhança de Salvini na Itália, le Pen na França, Nigel Farage no Reino Unido, ou os neonazis na Alemanha, temos uma extrema-direita brutalista a aflorar. Não tenham dúvidas, os ideais de tolerância, respeito, fraternidade, inclusão, que o 25 de Abril instaurou pela mão daqueles que tinham conhecido a guerra, a violência e a discriminação, e não as queriam mais, vêem chegar o fantasma. O fantasma é simpático à vista, veste bem, parece inofensivo, mas por sua mão abre-se a porta a uma aventura de brutalidade e dogmatismo semelhantes aos que deram origem à Segunda Guerra Mundial. Que os cravos portugueses deste dia se agitem na consciência de que é preciso preservar um bem inestimável para o equilíbrio de um futuro em Liberdade.

Flagrantes cabeças: Então não há gente que, nos raros dias em que chove no Algarve, escrevem nos livros de reclamações dos hotéis, violentos protestos e queixas por não haver sol?

Carlos Albino

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