SMS: O Algarve na estação pateta

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Colaboradora. Designer.

Também entre nós a expressão Silly Season entrou há duas décadas nos nossos conceitos e veio para ficar. Em chegando o Verão, não há ninguém que não se lhe refira, e que o não faça em tom perdoador. Trata-se, afinal, do tempo quente, quando se abandonam critérios de selecção jornalística sérios, e passa-se a contemplar os de natureza frívola. Antes era o tempo em que importavam as reportagens referentes aos discos-voadores e aos ressurgimentos do monstro escocês do Loch Ness. O monstro aparecia nas noites de luar e ouvia-se a sua respiração sobre as águas do lago.

Mas entretanto tudo se sofisticou e hoje a Silly Season substituiu os discos voadores e o monstro por intrigas palacianas globais, curiosidades sexuais, vidas de gente frívola, frivolidades de gente séria, rabos redondos, seios opulentos, nabos gigantes, cães de duas cabeças, plásticas de madonas e homens célebres. A política vai a banhos, adiam-se as discussões para o Outono, os migrantes podem chegar às praias que logo se vê, as guerras podem continuar que logo se contam as munições. Depois do verão, depois da estação silly. Não façam barulho, o Hemisfério Norte irá descansar. Dura dois meses, esta é a estação pateta que assola todos países europeus.

Entre nós, aqui, no Algarve, a situação é diferente. Talvez por via do calor e das praias, a estação pateta estende-se de janeiro a dezembro, não tem intervalo nem repouso. O Algarve tem um problema de desemprego sazonal e de expedientes permanentes? Alguém se preocupa a sério e barafusta sobre o assunto? Fica isolado, não tem resposta, as vontades estão de férias. Não existe um Hospital Central, nem se vê quando tal possa ter a primeira pedra? Toma-se uma limonada na hora do calor que a ansiedade passa. Vão fazer furos para prospecção e exploração de petróleo em Aljezur? Não faz mal, espera-se que o bendito solo da Terra nos salve, fazendo um manguito à Galp/Eni, não oferecendo uma pinga de crude. Mas se oferecer, que remédio? Ficamos na mesma, tomando whisky, depois do jantar, que o tempo está bom. Não temos um centro de produção de TV no Algarve, que permita que a região tenha uma voz própria? Não importa. Desde que Ronaldo enfie golos na baliza dos adversários, nós estamos bem. Bendita Dona Dolores que há trinta e três anos atrás pariu aquele menino de oiro. Que importa o resto? Vamos adiante, que amanhã Nosso Senhor permitirá que haja mar azul, sol brilhante, 356 dias de Verão por ano. Que ninguém responda, ninguém se mexa, ninguém faça nada. E, a propósito, quem foi que falou que Faro iria candidatar-se a ser Capital Europeia da Cultura? O entusiasmo já passou. Évora já avançou e fez bem. Chegou-se à frente. Nós, por cá, tudo bem. A Silly Season foi inventada pelos ingleses, a Rentrée, pelos franceses, o sono é português. O ressono é Algarvio. Muito obrigado, passem todos muito bem. Ressonem.
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Flagrante mistura: Entregar a Cultura ao Turismo, é o mesmo que beber leite com sardinha assada.

Carlos Albino

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