SMS: O fórum que falta ainda mais que a água

O encontro ocorrido nas Instalações do Núcleo Empresarial do Algarve, o NERA, na passada sexta-feira, dia 6 de dezembro, por convocação do seu Presidente, o Dr. Vítor Neto, para celebração do trigésimo aniversário daquela associação, veio mostrar à evidência que a região dispõe de uma vitalidade humana, criativa e empreendedora, preparada para enfrentar os desafios difíceis que se levantam nos dias que correm.

Nesse ponto de vista, foram bem eloquentes o Presidente da Fundação AIP, Rocha de Matos, bem como o Presidente da AIP, José Eduardo Carvalho. Ambos colocaram o dedo na ferida, enumerando os desafios, ou pelo menos aflorando-os, porque o tempo de que dispunha cada um dos oradores não era muito. Percebeu-se claramente em que posição de sobressalto se encontram os empresários portugueses em geral, numa altura em que a fragmentação associativa deixa dos empresários sem capacidade reivindicativa em face do Estado, os sindicatos inorgânicos não facilitam o diálogo razoável, as políticas globais incertas, e a volatilidade da cultura digital tornam imprevisíveis os resultados palpáveis do empreendimento. A essa flutuação, outros intervenientes acrescentaram, em relação ao Algarve, perigosidade da monocultura do turismo, a dificuldade em diversificar, o problema da centralização da administração, a conflitualidade entre municípios que dificulta o empreendimento, a burocracia, e outros males afins. E, por fim, o Engenheiro João Cravinho, apontando para o futuro, descreveu o estado de mobilidade social no Algarve, variação demográfica, capacidade de resposta às solicitações de ordem tecnológica, literacia e inovação, referindo dados que causam perplexidade, e singularidade, no panorama do país, e apontam, necessariamente para o imperativo da regionalização. Pode-se dizer, pois, que o encontro do NERA constituiu um momento alto de consciencialização do estado do empreendimento no Algarve. O saldo, para um salão cheio, não poderia ser mais elucidativo. No entanto, deve-se junta um “mas”.

E o “mas” é este – Se os empresários continuarem a proceder ao balanço da sua atividade sozinhos, os anos passarão, as queixas de marasmo serão as mesmas, e a cura, a haver, acontecerá em casos isolados, esforços singulares a que por vezes a sorte traz êxito. Pelo que se ouviu entre os empresários, e de outro lado se ouve da parte dos académicos da região, da parte dos antropólogos, historiadores, jornalistas, sociólogos, políticos, criativos de vários sectores, torna-se necessário um Fórum que chame a si as vozes dos vários sectores, para que se tente compreender por que razão o Algarve, que ocupa um lugar de destaque na renda nacional, não encontra impulso para sair da sua anemia de representatividade enquanto força dinâmica face a outras regiões de Portugal e outras regiões da Europa que se lhe assemelham em dimensão e problemática. Quem não tem medo desse fórum? Quem avança com proposta de localização, logística, suporte para concretizá-lo? Quem, com responsabilidade e poder para tanto, compreende que é mais grave não termos um conceito concertado para a região do que voltar a não chover mais um ano? Nunca se sabe o que é mais penoso, se uma seca na terra, se uma seca no pensamento. Houve momentos, durante o encontro no NERA em que ficou claro que a indústria não pode dispensar a cultura, a engenharia não pode dispensar a filosofia.

Flagrante parasitismo: O pior dos provincianismos é o provincianismo em rede.

Carlos Albino

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