Ninguém sabe, neste momento e nas atuais circunstâncias, quem vai ser o último e se este estará sozinho ou acompanhado. Apenas se sabe que, neste jogo porque de jogo se trata, cada um cuida da sua vida e acautela-se para os próximos e prováveis momentos. Cuidar da vida e prevenir o futuro mais ou menos imediato, equivale a saber jogar. Equivale a ser vencedor, digno da admiração e veneração geral e a passar pela gloriosa sensação de verificar que todas as cabeças à volta se curvam perante o rosto do herói. Aliás, todos os dias de manhã, na hora passageira do espelho, quem assim julga que sabe jogar, venceu, vence e dificilmente perderá, esse ou essa diz para si o que em voz alta jamais dirá perante os outros mesmo que seja o outro da maior amizade e intimidade: “Sou um génio”.
Quando o caos domina, quando ninguém se entende, quando não há lei que seja recurso para punir navalhadas nas costas, quando as leis, regulamentos e deliberações partem de quem se especializou ao longo da vida nas navalhadas, manda certa sabedoria dizer que “o último que apague a luz”. Nada mais errado. No caos e nas navalhadas a torto e direito, a luz desaparecera há muito totalmente e apenas restaram os donos do jogo como seres capazes de se moverem na escuridão. Os outros, possivelmente os que sempre se curvaram, podem continuar a existir mas ficaram reduzidos à mais miserável das cegueiras.
Antes que isto aconteça mais tarde ou mais cedo, se há coisa que mais incomoda o que, sendo senhor das táticas. se julga talhado para vencer, é que haja alguém que diga a todos, não que o último apague a luz, mas que “o último acenda a luz”. Ao menos esse.
Mera advertência.
Flagrante lamentação: Muito dinheiro deitado à rua. Um dia vai fazer falta, quando terminar o festival medieval.
Carlos Albino