O uso do conceito de património está na moda, e tanto quanto mais dá jeito – jeito político, jeito cultural, jeito de prestígio social. No Algarve e também noutras zonas do País, a questão do património é hoje amiúde descrita como questão vital, à cabeça, para o turismo. Acordou-se tardiamente para essa questão mas alguns passos, tímidos diga-se, foram dados. Aqui e ali, sem uma visão regional, planeada e sólida.
O atraso ficou devido a falta de recursos, a indefinições institucionais, à falta de quadros técnicos adequados, mas também devido a um persistente complexo de inferioridade, ou seja, à falta de crença no próprio património. Pensou-se que o Algarve teria pouco ou quase nada, e que o pouco, comparado com a exibição feita por outras regiões, nem valia a pena falar dele para a vergonha não ser maior. O conhecimento da valia patrimonial do Algarve ficou assim cativo de um reduzido número de eruditos, muitos dos quais marginalizados quando falavam ou escreviam sobre o que conheciam. Este panorama, de resto, foi ao longo de muito tempo comum às mais diversas áreas culturais e da criatividade artística. O inventário das perdas é extenso e melindroso.
É claro que, quanto a simbologia, o Algarve só tem algo comparável à Catedral de Notre Dame no Promontório de Sagres que a história, tanto a conhecida como a apagada, fizeram catedral do mar. Perder Sagres por qualquer motivo, causaria um profundo rombo na alma como se ter perdido tanto com o incêndio de Notre Dame. São coisas que dizem respeito à marcha da humanidade. Por certo, estaremos todos muito seguros de que jamais perderemos Sagres, e por isso até aceitamos que a simbologia se dilua. E quando um património daqueles (património em vários aspectos) se dilui nas águas, o efeito de destruição produzida é equivalente ao de um incêndio.
Flagrante conselho: Disse o Papa Francisco, em Marrocos, que «os cristãos não pretendem converter os outros». Não é preciso acrescentar mais nada
Carlos Albino