Mil vezes se disse e repetiu que estes tempos de crise, por entre muitos recuos e perdas, podem trazer vantagens, não muitas mas algumas que em tempos normais não se vislumbram. Entre tais vantagens, a de se pensar. Pensar sobre os rumos da sociedade, da região, do futuro coletivo. E como caminhamos para quase um ano de crise havendo sinais de que esta crise pode ser profunda, vale a pena observar como é que no Algarve se tem “pensado”.
Observou-se o suficiente surpreendendo tanto quanto possível onde é que o pensamento pode aparecer e afirmar-se. Nos jornais impressos e online, nas redes sociais, nos reportes de conversas de café, nas intervenções espontâneas ou programadas em reuniões públicas, em comunicados das associações políticas, sociais ou culturais, por aí fora, nas declarações e discursos de eleitos ou nomeados, de representantes ou representados sejam estes a favor ou contra. De modo geral, a produção algarvia é de uma pobreza evidente caracterizada por uma bipolarização muito peculiar. Dir-se-ia que tal como há a cataplana à algarvia, também será legítimo falar-se com fundamentação de uma bipolarização à algarvia.
Aqui neste reino, com particular evidência no inferno dos espontâneos em que as redes sociais se converteram, há de um lado uns desfasados ultra-românticos para os quais tudo está bem e tudo é um campo de flores quanto mais próximos estão os compadres e os vizinhos, e em oposição há os que vêem mal em tudo e se pronunciam sobre tudo mesmo que nada de nada percebam ou percebam muito pouco. Nada de permeio. Quando os primeiros, por regra rastejantes e subservientes, bem queriam mas têm falta de coragem para elogiar os autores de tantos erros nas políticas públicas, pelo que, quando muito calem-se, e ter-se-á que adivinhar o que pensam, se pensam, sob os silêncios de cemitério. Quanto aos segundos, os do bota-abaixo que são por natureza barulhentos e destemidos, ter-se-a que fazer idêntico esforço para descortinar se a sua espinhosa algazarra recobre alguma réstea de entendimento e compreensão das coisas. Tarefas impossíveis nos dois casos.
Bipolarização à algarvia. Qual pensamento nem qual carapuça! Perdem-se os tempos, perdem-se as vontades.
Flagrante conselho: Meu caro! A murro e aos berros, nada fica na memória. Cai em saco roto.
Carlos Albino