SMS: Peso, conta e medida

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Não há cidadão com juízo que, uns dias antes das eleições, sejam elas quais forem, não se interrogue sobre se vale a pena ir deitar numa caixa de madeira, ou papelão, o seu boletim de voto. Porquê? Para quê? – É a pergunta que nesses dias fazemos. E formulamos essa pergunta porque o voto universal, democrático, tal como o conhecemos – e não vemos outro melhor – cria-nos a perplexidade de nos remeter para um paradoxo estranho: a noção de que o voto de cada um vale muito pouco, e a noção oposta, de que sem ele, multiplicado pelo de milhões de cidadãos que compõem a sociedade de um país, o governo democrático não existe. E nesta segunda parcela do raciocínio encontra-se a chave do problema – os nossos votos, todos os votos, mesmo quando idos ao engano, são sagrados. O voto de cada um de nós é sagrado, para usar a palavra, que na escala da adjectivação, coloca nele o valor mais alto.

Essa sensação de paradoxo, porém, é ainda mais viva quando se trata das eleições europeias – trata-se de um governo distante, a Europa, uma realidade quase abstracta, além de que os jogos dos políticos nacionais ensombram a pureza das intenções, mas, ainda assim, esse voto, o meu, o seu, os da nossa rua, do nosso café, da nossa praça, os votos de todos nós, são sagrados. Neste momento, em que a Europa, como conjunto de nações europeias, se encaminha para a sua confirmação, ou abre a brecha por onde o terramoto pode entrar, é preciso que nos definamos. É preciso que o nosso voto, por mínimo que seja, por grão de areia na duna que seja, ajude a clarificar os que está diante de nós – Uma Europa partida de novo, roída pelo vício da rivalidade, da intriga, e do egoísmo, ou uma Europa unida pelo ideal da partilha, do diálogo e da paz?

Palavras abstratas? Figuras afastadas? Instituições longínquas? – Mais abstractas, mais longínquas, mais afastadas serão elas, se acaso acordarmos não com um Brexit mas com um Euroexit, e ficarmos todos separados, cada um na sua nação, orgulhosamente sós. Vivemos demasiado tempo sob esse lema, para desejarmos isolamento, pobreza e rivalidade pacóvia. Quem nasceu sob o estertor da Segunda Guerra, quem viveu a juventude em ditadura e isolamento em face das Nações Unidas, sente-se legitimado para dizer, humildemente, que confiem em nós, os mais velhos – Vale a pena ir votar. Cada um de nós tem peso, conta e medida. O ato de votar deve ser mais forte do que tudo o que nos fez desiludir. Quer as desilusões tenham vindo de pessoas tidas como irrepreensíveis, de grupos insuspeitos ou de gente que, sem se esperar, deixou cair a máscara. Há mais gente no mundo.

Flagrante verificação: O Algarve ausente da Europa.

Carlos Albino

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