SMS: Petróleo, trio de ataque

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Ficará inscrita, nos actos do cinismo político, a comunicação ao país levada a cabo por três governantes, chefiados pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, no passado dia 16 de Maio, sobre o anúncio de que o consórcio Galp/Eni fica dispensado de um estudo de impacte ambiental para iniciar as manobras de prospecção de petróleo, ao largo de Aljezur. Essa comunicação surpreendente foi de imediato abalizada pela declaração do presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, para que a encenação tivesse o seu momento de apoteose perfeito. Um laço dourado na caixa brilhante, contendo lá dentro uma oferta envenenada não só ao Algarve mas a todos aqueles que pugnam pela verdade nos regimes democráticos.

O tom alterado das vozes das várias forças cívicas do Algarve, que desde então se têm levantado, não encontra simetria na gravidade do que se irá fazer ao lago da costa algarvia a partir do mês de Setembro, nem na gravidade da forma enganadora dos argumentos apresentados. A gravidade de como, com uma encenação televisiva perfeita, se manipula a opinião pública. Na verdade, um governo que esquece o Algarve em tudo, não encontrou melhor forma de iludir a população do que criar um show comunicativo, depois de se fazer correr a falsidade nos jornais de que Portugal lucrará com esse petróleo, e 1000 postos de trabalho serão criados desde que se iniciem os trabalhos de prospecção em Aljezur. Isto é, o governo não está sozinho, a Galp/Eni compra quem bem lhe apetece, e há quem se deixe vender, ou pelo menos iludir, bem iludido.

Os argumentos que demonstram o seu contrário são brandidos por particulares, responsáveis independentes, ambientalistas, associações na área da Hotelaria e Turismo, académicos, cientistas, a população em geral, opinião manifesta em milhares de assinaturas, e, sobretudo, pela associação de autarcas da região. Não os vamos invocar pela milésima vez.

Mas, ao ponto a que este processo chegou, vale a pena colocar diante dos nossos olhos as instituições que deram o seu aval às manobras chamadas Santola, pela criatividade poética do ministro do Ambiente do governo de Passos Coelho. Foram eles a CCDR do Algarve, a CCDR do Alentejo, as direcções-gerais da Autoridade Marítima, do Património Cultural, dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, Saúde, Entidade nacional do Mercado de Combustíveis, Instituto de Conservação da Natureza e Instituto de Português do Mar e da Atmosfera. Estas entidades não são abstracção, têm gente atrás com nomes próprios, e deve-se-lhes perguntar a todos, mas sobretudo aos governantes chefiados por Augusto Santos Silva, que interpretaram a aparição televisiva, o seguinte:

Primeiro – Não saberemos todos, que a fase da prospecção é a porta escancarada para a segunda fase, a de exploração? Porque separar, artificialmente, uma fase da outra? Não se trata de um argumento primário, para enganar crianças?
Segundo – Não saberemos todos que a promessa de que não haverá mais licenças de prospecção até 2019, não significa, precisamente, que a porta fica aberta para que sejam feitas a partir de 2020? Não se trata de um argumento tão rasteiro que parece dirigido a débeis mentais?
Terceiro – Não saberemos todos que nenhum partido político, designadamente o Partido Socialista, agora no poder, esclareceu no seu programa eleitoral que tinha como projecto transformar Portugal numa potência petrolífera? Quem vos deu o aval para encetarem a seu bel-prazer, sem ter sido votado nas urnas, uma mudança tão radical na geografia económica da exploração de recursos no nosso país?

Quem responde a estas questões? Ninguém responde. Mas os olhos dos algarvios, e os de muitos portugueses que estão despertos para o assunto, estão postos sobre o trio de ataque que nos ofendeu profundamente. Pela sofisticação do processo de comunicação, pela alteração da verdade, pela manipulação das vontades, pela ousadia em avançar com um plano contra a população, contra a razão, contra o futuro, contra a Terra.

Flagrante ditado: Diz.me quem, por manha, se cala, dir-te-ei quem se

Carlos Albino

 

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