O título do apontamentozinho desta semana foi obviamente forçado pelas eleições de 6 de outubro: quatro anos com o que temos. E o que temos era esperado. Os partidos combinam internamente “as coisas”, tirando isto ou mudando aquilo Lisboa aprova, os nomes são apresentados por ordem e a eleição acontece com justiça para este, sorte grande para aquele, unha negra para algum e razia para os restantes. O esquema até estaria bem ou pelo menos funcionaria aceitavelmente, se os partidos fossem abertos, não temendo a militância crítica, se a sua construção fosse de janelas e portas escancaradas para a Sociedade e se desta partissem sinais inequívocos de ética, conhecimento e responsabilidade. Duvida-se, mas isto só poderá verificar-se no paraíso e será tarde quando algum curioso tiver a oportunidade de espreitar… Portanto, os próximos quatro anos, anos políticos, vão ser vividos com o que temos e o Algarve não pode exigir a transmontanos, beirões ou alentejanos que façam pelo Algarve o que aos Algarvios compete. Passados os momentos de festa, tem sido essa a resposta que se houve nos corredores de decisão em Lisboa e das bocas que decidem. Temos que aguentar os próximos quatro anos, pois, com o que temos e sem o que devíamos ter.
Na semana passada, aqui se observou que as listas apresentadas são fracas. Naturalmente que a apreciação não envolvia nem envolve avaliação da ética ou honestidade, ou mesmo da coerência dos candidatos. Isto não está em causa. Quando se diz listas fracas, a referência direta e útil tem a ver com a força, peso e influência política dos integrantes das listas. Peso nos partidos, e influência nacional, que a influência regional está para a linha férrea Tunes-Lagos, assim como o TGV está para a ligação entre o Estádio do Benfica e o das Antas, para nos socorrermos de metáfora adequada à cultura nacional. Não temos força que se veja, peso que se comprove e influência que imponha pelo menos respeito. Com isto não se diz que este ou aquela, não venha a ter peso e a possuir argumentário imbatível ou de elevada qualidade política. Até pode acontecer, tenhamos esperança.
Todavia aquilo mesmo que os que se esforçam por estar conscientes do momento que passa e advertem ou avisam do que pode estar iminente, parece ser partilhado pelos que se gabam da inconsciência e até a promovem. Tanto a gabarolice como tal promoção têm, de modo geral, uma designação – abstenção. E esta quanto mais elevada for, assim também mais razão dá aos que advertem e avisam. A abstenção do dia 6 no Algarve, provoca um grande calafrio. Apenas quem, tendo votado (designadamente em si próprio) esteja inconsciente do que se está a passar, não sentirá o calafrio que igualmente não é sentido por quem se abstém.
Já uma vez, na cerimónia de baptismo de uma ditadura, a abstenção foi contada como votação favorável. Do domínio do “sistema” pelos abstencionistas a um tal baptismo, é um passo. Abstencionistas e brincalhões são os que deveras retiram peso, força e influência política ao Algarve.
Flagrante geringonça: Pelo que se leu, o Hospital Central do Algarve parece ser uma autêntica construção na areia, tanto na praia de Faro como na de Portimão, cidades que perderão o movimento citadino de funerárias se ou quando alguém acabar com a brincadeira eu já demais.
Carlos Albino