Já era para ter chegado a ocasião para a democracia ter dado mostras de maturidade, até mesmo nos pormenores. Um destes pormenores que já chegou ao online provinciano, é a forma arbitrária e persistente como “notícia” e “comentário” se cruzam e confundem, não havendo meio de retirar à democracia esse ar de adolescência tardia. E então quando os “comentadores” numa espécie de ilibação de algum suposto crime ou ilicitude, dizem e repetem na primeira pessoa, isto: “quando eu estava na política ativa”, como se descaradamente não estivessem nela bem ativos e nunca dela tenham saído. Brincadeira ainda de adolescência tardia quando os partidos, conforme a conveniência do momento, se apresentam com slogans que disfarçam ou mascaram as suas bases ideológicas atirando areia para os olhos dos eleitores. Enfim, nos períodos de descanso da política, a adolescência tardia não é crime, e pelo menos pode divertir quem a observa. O problema é quando o momento e as circunstâncias reclamam maturidade e inteligência de quem lhe interessa transmitir uma mensagem política e a quem esta se dirige, como ocorre nos períodos eleitorais. Essa maturidade está a faltar, como se nota na própria propaganda política preparatória das eleições autárquicas.
Encurtando caminho e poupando o teclado, agora que os partidos vão revelando caras e intenções para o próximo sufrágio, esse teste de inteligência e maturidade já permite concluir que a política no Algarve não sai do primarismo. E mais grave do que continuar no primarismo da adolescência tardia, é ir aparecendo aí por todo o lado com ares de infantilismo atroz. É claro que se admite que na generalidade dos casos de tal infantilismo, a responsabilidade maior não é dos partidos, mas sim dos serviços ou das agências às quais os partidos entregam a parte da publicidade e propaganda das suas campanhas. Os partidos quase sempre se limitam a aceitar “o que lhes parece melhor”, se é que não se entregam sem condições ao critério dos peritos “internos”. Seja como for, a política tal como está a surgir à vista pública em pouco difere da publicidade dos sabonetes e das fraldas para bebés, como na semana passada aqui já se alertava em nota de rodapé.
Nenhuma ideia nova, nenhuma proposta de valor e nenhum projeto que mobilize eleitores para a escolha de gente responsável e sabedora para câmaras e freguesias. Apenas caras e, em alguns casos, tiradas do cartão de cidadão antiquado. De modo geral, a publicidade ou propaganda pré-eleitoral patente no Algarve, equivale a atirar barro à parede, havendo de tudo – desde o mais reles e incongruente populismo, até ao mais alto conceito acima das nuvens. De qualquer modo, o infantilismo que vai reinando para já nos outdoors, consiste em apresentar candidatos como sendo líderes já carismáticos, sem nada terem feito ou para mostrar a não ser a avidez de contacto direto com as massas urbanas, e sem que a intermediação de partidos seja importante e necessária. Como se para angariar votos e prestígio, bastasse gerar, o mais fortemente possível, um vínculo emocional com “o povo” através de slogans construídos na inverdade, não indo além da inverdade pois a calúnia já provou não ser eficaz por maior que seja a avenida da terra onde a mentira dê à perna. Ou então, nos partidos que se julgam proprietários já insubstituíveis desse vínculo emocional, e como têm que fazer alguma coisa com aparência de seriedade, avançam-se uns slogans alinhados na abstração e em elevados conceitos morais que não contam para os orçamentos municipais e muito menos os relatórios de atividades.
Faltam ideias, falta pensamento, faltam projetos, faltam programas. E quem vê caras, não vê os resultados dos testes de inteligência.
Flagrante tese de mestrado: Sem atum, sem sardinha e sem carapau também não poderia ter havido indústria conserveira.
Carlos Albino