SMS: Três símbolos do Algarve

PRIMEIRO – Os caíques. São inegavelmente símbolos históricos do Algarve ligados às actividades náuticas, a gestas ou sagas indesmentíveis das gentes do nosso mar. Gestas são muitas e sagas de navegação são das mais marcantes. Andavam por toda a costa, desde Lagos a Vila Real, mas o grande cais de ancoragem nos dois últimos séculos foi sem dúvida Olhão, onde por sinal, agora, estão a ser construídos barcos pioneiros que vivem da energia solar tal como os caíques viviam do vento, qualquer que fosse o vento, mesmo os ventos contrários. As últimas histórias da navegação pelas estrelas pertencem a Olhão. Os caíques, matéria perecível mas recuperável e ressuscitável, deviam figurar na classificação do património e deviam representar o papel de atores reconhecíveis num centro explicativo das actividades náuticas e, contra alguns historiadores que apenas denigrem a História, atores principais das primeiras sagas dos descobrimentos em que Lagos e Sagres pontuam como sítio. Olhão pode e deve fazer tudo para a classificação do caíque como património.

SEGUNDO – As Atas Municipais de Loulé Medieval. Pode-se afirmar agora que está no bom e definitivo caminho, a classificação das Atas Municipais de Loulé, as mais antigas que se conservam do País, como Tesouro Nacional, máximo reconhecimento de um bem patrimonial ou cultural. Oxalá que não demore a decisão final mas que demore o necessário para que esse indesmentível tesouro da História portuguesa em vários domínios, se afirme com a dignidade surpreendente que a própria História lhe confere na extremidade sul que o País secularmente tem esquecido mas de que tanto se tem aproveitado. Um Tesouro Nacional é o mais valioso anel que se pode colocar no dedo anelar do Algarve. Se a Europa culta sabe disso, cai em peso.

TERCEIRO – O Pentateuco de Samuel Gacon. O mais antigo livro impresso em Portugal (Faro, 1487), que se encontra na Biblioteca da Universidade de Oxford por entre outros livros saqueados pelo corsário inglês Robert Devereux em 1596, há muito que devia ter sido devolvido em boa-fé para o país é cidade de origem. É claro que o corsário não colocou entre as suas preocupações prioritárias fazer o inventário do roubo para que ficasse documentalmente provado que o Pentateuco foi roubado sendo o roubo actividade legítima de um qualquer corsário, esse ou outro. O certo é que é um bem cultural de excecional relevo e simbolismo que, pertencendo à história de Faro, está em Oxford. Em diversas ocasiões aqui nos referimos a essa matéria, designadamente quando Faro foi Capital Nacional da Cultura (2005) como aquilo que deveria ter sido questão-chave. Mais recentemente, a Associação Faro 1540 reclamou essa devolução à Bodleian Library. Mas não basta. Sendo o que é, devia ser o Estado Português a interferir, suscitando procedimentos de boa-fé, antes de recurso a alguma obrigação jurídica internacional. Pelo que consta, Portugal não roubou nada a Oxford, muito menos à Inglaterra ao longo dos séculos, pelo que a devolução de um livro não ficaria mal a Londres, por muito mais que tenha sido pilhado e saqueado no nosso País por corsários “ao serviço de Sua Majestade” como foi o caso de Robert Devereux e que por tal serviço foi arvorado em Conde de Essex. Para já, independentemente do Pentateuco estar fora de portas levado ilicitamente – não consta que algum Bispo do Algarve tenha subtraído o livro da Biblioteca do Bispado -, o livro impresso por Samuel Gacon pode e deve ser classificado com bem cultural português para que, como tal, seja pedida a devolução em boa-fé ou reclamado. Cabe ao Estado se preza o livro e cabe a Faro se tem esse bem cultural na devida conta e medida.

Faro-Olhão-Loulé, a cultura também deve ter a sua área metropolitana, porque densidade não falta. E símbolos também não.

Flagrante maré-viva: Tarde mas foi: é Hospital mais uma vez prometido sem data, são os buracos da 125 antes do conserto da mesma, é a 124, é a 396, é a electrificação da linha ferroviária… Chama-se a isto uma “região-piloto”.

 

Carlos Albino

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