Os artigos de Mário Soares no “Diário de Notícias” não costumam ser simpáticos para o atual Presidente da República. Mas o desta manhã entra num campo inédito, quando, no sexto parágrafo, Soares escreve o seguinte: “Veio, entretanto, a ser eleito Aníbal Cavaco Silva, membro do Partido de Sá Carneiro, depois de ter sido salazarista convicto no tempo da ditadura”.
A frase é surpreendente porque logo na primeira candidatura de Cavaco Silva a Belém, contra Jorge Sampaio em 1996, o período de antes do 25 de Abril foi muito esmiuçado e usado como arma de campanha, sobretudo porque Sampaio tinha um forte currículo contra o Estado Novo, quer como líder académico quer como advogado.
Nessa altura, Cavaco Silva, que não teve qualquer atividade política antes do 25 de Abril, fez várias confissões sobre o seu período estudantil e académico, tendo ficado relativamente claro que não tinha qualquer proximidade formal ou informal ao Estado Novo, mesmo no período do Marcelismo. Cavaco estava em Inglaterra a fazer o doutoramento quando foi o 25 de Abril e só começou a destacar-se na sociedade portuguesa quando faz parte, com Alfredo de Sousa, do grupo que funda a Universidade Nova de Lisboa.
Nessa campanha presidencial de 1996, que Sampaio veio a ganhar à primeira volta, o tema do passado político pré-25 de Abril de Cavaco Silva acabou por não ter grande relevo, apesar do “passado antifascista” de Jorge Sampaio ter obviamente jogado a seu favor. Cavaco foi, sobretudo, acusado de não ter passado político e de não ter posto em causa o Estado Novo, enquanto outros – como Sampaio ou Soares – lutavam pela democracia.
Com este artigo Mário Soares vem reabrir, quase 20 anos depois, uma polémica que, na verdade, nunca chegou a existir, que foi sempre desmentida por Cavaco Silva e nunca explorada pelos seus adversários diretos. A acusação é, sobretudo por isso, absolutamente surpreendente.
RE
Comparar os percursos familiares, académicos, e de vida privada entre Cavaco e Sampaio, é como querer comparar a feira do Redondo com o buraco do olho c…u.
Sampaio pertence à “aristocracia” dos Bensaúde (família judaica) de Lisboa e foi advogado de presos políticos julgados no Tribunal Plenário na Boa-a-Hora. Sampaio fez o percurso académico na Faculdade de Direito de Lisboa, onde germinava muito fermento maçónico e jacobino revolucionário, que nada tinha a ver com o do Instituto Comercial, e depois do Instituto Superior de Economia frequentado por Cavaco.
Cavaco foi para Londres e depois andou por bons empregos do Estado. Sampaio fez advocacia privada e frequentou sempre ambientes contestatários ao Estado Novo e ao Marcelismo. Cavaco nunca frequentou ambientes hostis ao Estado Novo.
Depois, o resto está contado: Cavaco aliou-se a Sá Carneiro e progrediu na carreira política. Sampaio, foi sempre de esquerda (da esquerda da lagosta, mas de esquerda) da UDP e de Otelo; depois Bloco de Esquerda, e por fim ao PS, onde foi eleito presidente da república por todo centro e esquerda portuguesa.
Portanto, nada de comparável entre os dois políticos. Um é vincadamente de direita, o Cavaco; e o outro – Sampaio -, social-democrata de esquerda, que na Alemanha se classifica como ser socialista.
O Utopias termina o seu comentário, não querendo esquecer que o grande braço direito, e ombro de Cavaco é hoje um homem finado (morto) há pouco tempo e que se chamava Eurico de Melo, dono, ao tempo, de uma grande empresa têxtil no norte do país, hoje nem por isso.
Tudo isto, por que o Cavaco de Lisboa para baixo, apenas colhia sensibilidades políticas positivas no Algarve.
Aonde Cavaco sempre foi buscar votos para ser eleito foi ao Norte de Portugal, com o apoio e credibilidade desse industrial e político nortenho, Eurico de Melo.
E por ser verdade, e para que o nome de Eurico de Melo não caia no esquecimento aqui fica feito o reparo, para servir a quem interesse, e menos ao Utopias, que dorme muito bem sem esse conhecimento.