Sócrates falou do negócio PT/TVI 11 dias antes de negar conhecê-lo

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Os anexos do processo ‘Face Oculta’ têm marcas de água inesperadas. O Expresso cruzou listagens e despachos e descobriu os momentos exatos em que o primeiro-ministro conversou sobre a aquisição da TVI pela PT.

É uma conversa de três minutos e está simplesmente identificada como “produto 24” num apenso do processo ‘Face Oculta’, onde consta a listagem das interceções feitas a Armando Vara entre junho e setembro de 2009. A chamada foi feita pelo então vice-presidente do BCP para o telemóvel do primeiro-ministro às 18h59 do dia 13 de junho.

Segundo o que escreveram dois inspetores de Aveiro num despacho para validação de escutas a 17 de junho de 2009, o conteúdo da conversa entre Armando Vara e o primeiro-ministro “reporta-se à possível aquisição de uma posição dominante no capital social da empresa detentora da TVI por parte de uma das empresas do grupo PT”.

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O telefonema aconteceu 11 dias antes de José Sócrates garantir no Parlamento, a 24 de junho, que desconhecia o negócio. Mas não foi o único contacto que ocorreu antes da declaração aos deputados. O Expresso detetou mais três interceções de Armando Vara com José Sócrates cujo conteúdo é descrito exatamente da mesma forma pelos inspetores (“possível aquisição de uma posição dominante no capital social da empresa detentora da TVI por parte de uma das empresas do grupo PT”) e nas vésperas da ida do primeiro-ministro à Assembleia da República.

Num dos casos – um SMS – o número de telemóvel surge claramente identificado. Nos outros, os campos relativos ao número de origem e ao número de destino aparecem em branco. O Expresso confirmou junto do Ministério Público de Aveiro que os campos em branco se referem a escutas envolvendo o primeiro-ministro que foram mandadas destruir pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (embora se perceba que houve pelo menos dois registos do número identificado de José Sócrates que escaparam ao crivo dos técnicos, sendo um deles o de dia 13 de junho).

Duas das interceções consideradas comprometedoras foram realizadas a 19 de junho – uma chamada de voz e um SMS -, no dia em que houve uma reunião decisiva em Lisboa da administração da PT com a administração da Prisa; em que Rui Pedro Soares enviou para o grupo espanhol proprietário da TVI uma minuta do contrato de compra e venda; e em que José Sócrates jantou com Rui Pedro Soares.

Às 20h13 do dia 19, há uma chamada de quase cinco minutos entre Armando Vara e o primeiro-ministro sobre o negócio. E às 21h32, o então vice-presidente do BCP envia um SMS a José Sócrates ainda sobre o tema. Esta mensagem escrita surge numa sequência toda ela dedicada ao negócio PT/ TVI. Primeiro, há um SMS de Rui Pedro Soares para Armando Vara às 21h27; cinco minutos depois, o SMS de Vara para Sócrates; e a seguir, às 21h48, um SMS de Armando Vara para Rui Pedro Soares.

Já se sabia, pelo conhecimento anterior das escutas, que uma hora antes desses SMS houve um telefonema em que Rui Pedro Soares diz a Paulo Penedos que vai “jantar com o primeiro”. E que horas depois, às 0h19, Rui Pedro Soares comenta outra vez com Paulo Penedos que “o chefe” pediu para “ir para lá três meses”.

Estas escutas de José Sócrates sobre o negócio PT/TVI identificadas pelo Expresso são diferentes das cópias de cinco chamadas de voz e 26 mensagens escritas guardadas no cofre do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), que não foram destruídas em Aveiro durante a fase de inquérito do ‘Face Oculta’, devido a um (…)

Micael Pereira/ Rede Expresso

[peça publicada na íntegra no seguinte endereço:

http://aeiou.expresso.pt/socrates-falou-do-negocio-pttvi-11-dias-antes-de-negar-conhece-lo=f625641]

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