SOFIA DOMINGOS CARRUSCA
“Alcoutim, Terra de Fronteira”, é o tema da exposição inaugurada no passado dia 23 de Junho de 2010, actualmente patente na Vila de Alcoutim, e integrada no projecto intermunicipal “Algarve – do Reino à Região”, coordenado pela Rede de Museus do Algarve.
Através de um circuito de exposição exterior, de longa duração, interpretado e implantado em pleno núcleo urbano de Alcoutim, propõe-se aos seus visitantes um itinerário orientado por painéis exteriores bilingues (Português e Inglês), onde se realiza um preâmbulo histórico da evolução da Vila de Alcoutim e se analisa a importância da fixação humana na raia fluvial do Guadiana, cujo rio, a vila acastelada de Alcoutim e, na margem fronteira, a Vila “gémea” de Sanlúcar constituem o principal fio condutor da exposição.
Na exposição “Alcoutim, Terra de Fronteira”, os visitantes são convidados a realizar um circuito exterior através de dezasseis painéis, seis exposi-tivos de interpretação e dez de sinalética informativa para o património edificado, que se encontram distribuídos pelo núcleo urbano da Vila.
A presente exposição permite ao público visitante o “livre-arbítrio” de direccionar o sentido da sua visita perscrutando os cantos e recantos históricos da Vila de Alcoutim. Através da “musealização” da paisagem e do cenário da implantação da vila, contextualiza-se simultaneamente o espaço exterior com o património edificado, verificando-se uma correlação na implantação da sinalética com a contextualização histórica do sítio.
O visitante, definindo o seu próprio itinerário da visita, sem circuito de exposição delineado, poderá realizar uma fruição do espaço expositivo exterior definindo os núcleos temáticos a visitar que, isoladamente, perspectivam novos olhares sobre a história desta Vila.
O convite e introdução à temática da exposição é realizada na Praça da República, adro central da Vila de Alcoutim que, através de um painel introdutório mapeado, convida o visitante a realizar um itinerário pelo núcleo urbano, e indica os principais pontos de visita pelo núcleo urbano de Alcoutim.
Num sentido mais lato, a exposição “Alcoutim, Terra de Fronteira” debruça-se sobre a especificidade das dinâmicas de um Algarve oriental, ermo cultural e administrativo dos centros urbanos, e explora a intrínseca relação com o Rio Guadiana, curso fluvial que constituiu desde sempre uma mais-valia para estas populações e via de comunicação preferencial para transporte de produtos, bens, pessoas, novidades e ideias.
O Rio Guadiana constituiu ainda uma verdadeira fonte de rendimento e auto-subsistência através da prática piscatória regular e desenvolvimento de artes e engenhos de pesca que permitiam a apanha da enguia, lampreia, sabóga, sável, barbo, tainha (muge), entre outras, e das quais dependiam as populações isoladas da raia.
Associado ao Guadiana, como rede preferencial de trânsito de mercadorias, não poderemos deixar de referir a importância da exploração mineira e o seu transporte, tal como o ouro, prata, cobre e chumbo, que transitaram no Guadiana, a jusante e a montante, e que deram emprego a Alcoutenejos e às populações de toda a raia associada, constituindo motivo de crescimento económico para esta região.
Os “núcleos” expositivos de visita relançam, igualmente, um olhar sobre as relações entre Alcoutim e Sanlúcar do Guadiana, onde se explora a singularidade destas duas vilas que, ao longo da história, tiveram uma ligação de interdependência devido à distância dos grandes núcleos comerciais e administrativos mas, simultaneamente, de demarcação de fronteira e defesa do território através da implantação sobranceira ao Rio de fortificações em ambas as margens.
Embora ao longo da história o trânsito comercial entre estas localidades de fronteira pareça indicar a sua intermitência devido a demandas políticas e administrativas, levadas a cabo pelos dois “reinos”, as transacções efectuadas demonstram uma linha de continuidade através da comercialização contrabandeada dos mais diversificados produtos, especialmente aquando da Guerra Civil Espanhola (1936- 1939).
A especificidade da economia do Algarve oriental com as relações da raia, envolvendo o contrabando, a fiscalização e controlo da fronteira, reflectem a ligação fluvial como binómio de necessidade vs cautela, informação contextualizada que o visitante poderá acompanhar no painel expositivo, junto à antiga Alfândega.
O Castelo, geoestrategicamente edificado numa posição dominante sobre a Ribeira de Cadavais e Rio Guadiana, dá seguimento ao itinerário da exposição, apresentando dois painéis que relançam um olhar sobre a necessidade de defesa de fronteira após D. Dinis ter outorgado a carta de foral a Alcoutim em 1304, e perspectiva o início da fortificação da vila, assim como a poste-rior necessidade de renovar o sistema defensivo (1660).
Como atestam os testemunhos históricos, o urbanismo da Vila floresceu, e Alcoutim, de “póvoa” a condado e posteriormente a praça de guerra, desenvolve-se em sentido mais amplo embora ainda circunscrita, inicialmente, pelos cursos fluviais anteriormente referidos.
Para além de reconstituir a evolução histórica de Alcoutim a partir da sua paisagem, o projecto permitiu, ainda, sinalizar mais dez pontos de referência com sinalética informativa na vila. São eles: o troço de muralha do Séc. XVII, Igreja da Misericórdia, Igreja Matriz de S. Salvador, Casa Baluarte, Capela de Sto. António, Casa dos Condes, Antiga Alfândega, Castelo e a Ermida de N. Sra. da Conceição, com a sua imponente escadaria Barroca.
“Alcoutim, Terra de Fronteira” convida ainda o visitante para uma experiência interpretada com áudio-guias, onde serão disponibilizados, brevemente, os conteúdos da exposição em cinco línguas: português, inglês, espanhol, francês e alemão, assim como toda a informação turístico-cultural sobre a vila e seu território, disponíveis no quiosque multimé-dia, anexo à Casa dos Condes.
A presente exposição disponibilizará igualmente, de futuro, a possibilidade de descarregar os registos fonográficos da exposição através de equipamentos como o IPod, MP3, MP4 ou telemóvel pessoais através do quiosque multimédia ou página web da autarquia, havendo ainda a possibilidade de requisitar um MP4 na recepção do Castelo e/ou posto de turismo, para que o visitante seja guiado na sua visita.
Aconselhamos a visita à exposição “Alcoutim, Terra de Fronteira” e convidamo-lo a realizar um aprazível percurso pelo centro histórico de Alcoutim desvendando a história encerrada na paisagem e nos monumentos visitáveis, não dispensando a respectiva brochura com sinalização em mapa dos locais a visitar e informação complementar, que poderá ser adquirida gratuitamente na Casa dos Condes e no Posto de Turismo de Alcoutim.
Por considerarmos a presente exposição um excelente exemplo da prática museológica de cenário exterior que lança um preâmbulo sobre a história de uma Vila singular, está lançada a premissa para uma excelente visita de fim-de-semana em contacto com o património natural e cultural de um concelho rico em “história e estórias”- Alcoutim.
Horário Casa dos Condes:
Verão (Abril a Setembro): 9h00 – 18h00
Inverno (Outubro a Março): 9h00 – 17h30
Horário Castelo:
Verão (Abril a Setembro): 9h30 – 19h00
Inverno (Outubro a Março): 9h30 – 17h30
Nota: O autor não escreveu o artigo ao abrigo do novo Acordo Ortográfico