TEODOMIRO NETO

 PoliticaMENTE

Teoria do Maquiavelismo

Nicolau Maquiavel, autor de “il Príncipe”, italiano, nascido na Florença renascentista, 3/05/1469, viveu 58 anos entre júbilos e ódios. Escreveu, entre algumas obras de teoria política, o célebre estudo “O Príncipe”, entre 1513-1514. Mas a sua publicação foi póstuma (1532), autorizada pelo papa Clemente VII, deixando-nos o maquiavelismo para a eternidade.

Ainda hoje guardo o livro comprado em Faro, numa semi-clandestinidade, na papelaria Farracha, num vão de escada, na rua 1.º de Dezembro, em 1958, ao custo de 12$00. Lembro que foi uma edição autorizada, e depois arrependida, da “Biblioteca Cosmos”, na responsabilidade do professor universitário, Bento de Jesus Caraça, cientista que recebeu todos os castigos da política do seu tempo ditatorial (1926-1974).

Não venho trazer nenhuma novidade sobre a obra de Maquiavel., mas vamos a uma conversa que vem há 54 anos, num rebusco encontrado e nunca publicado: O “Príncipe” ficou como uso e abuso dos príncipes e de homens de estado, como um breviário dessa gente. Lido e discutido para todos os tempos e por estadistas de todos os tempos e por estadistas de todos os futuros… Se a expressão para alguns quer dizer elevação de conceitos, beleza moral, para outros não passa de uma expressão pejorativa e de um símbolo de malvadez e de hipocrisia. Na verdade , para uns, e nesses está incluído o maior número, Maquiavel é tido como o mais cínico dos teóricos políticos, o doutrinário que proclama a astúcia e a violência como métodos excelentes, legítimos e necessários na administração dos Estados, que aconselha, como bons, os piores meios de acção, para quantos desejam conquistar e manter o poder. Deste modo, o maquia-velismo é, para estes, a súmula mais acabada da imoralidade, da malvadez, da perfídia, etc. O autor de “O Príncipe” é, desta forma, considerado como um homem execrável, que pregou, cinicamente, o sacrifício das mais caras liberdades individuais, ante o trono do soberano, em favor de tudo o que governa, como um inimigo declarado de todas as ideias livres. Para estes, Maquiavel e maquiavelismo são palavras que causam horror e que só aos tiranos servem e que só os tiranos podem estimar: conceitos contrários moral cristã ética, valores aos sentimentos humanitários, a negação absoluta e acérrima da liberdade e da democracia. E “O Príncipe” afigura-se-lhes como uma nuvem escura que há 480 anos ensombra o mundo. Para outros, porém, o problema põe-se exactamente ao contrário, e Maquiavel é celebrado como um virtuoso e austero republicano à antiga, ardente de fé no povo e de patriotismo, digno descendente dos grandes cidadãos da velha Roma, que coloca acima de tudo os nobres e largos interesses da colectividade, em oposição aos vis interesses particulares, que pede o sacrifÍcio ao bem geral, às mais fortes e poderosas razões do Estado. São estes que o veneram e celebram como uma grande figura do pensamento moderno, universal e largo nos seus conceitos, agudo e justo na observação: um dos maiores defensores dos sagrados direitos dos povos.

Há quase cinco séculos que esta cartilha é seguida, que estas teses tão opostas se debatem, numa plataforma entre admiradores e detractores.

Mas o que ele, talvez, nunca esperou é que desde há 480 anos, e da publicação deste livro, vêm-se sucedendo, umas atrás das outras, as figuras que vão dominando a Europa através dos séculos, chegando ao XX com Mussolini e Hitler, Staline, Salazar e Franco, e que a conversa se prolongasse por tão largo tempo e que ainda agora não tivesse cessado neste início do século XXI.

O maquiavelismo está patente e em força entre nós. Quem duvida? Só os Ulrich…

 

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