TEODOMIRO NETO

 PoliticaMENTE

Lembrar Aquilino Ribeiro no 50.º aniversário da sua morte

A 11/02/1960 “atrevi-me” escrever, no semanário de Faro “Correio do Sul”, uma crónica que intitulei “Aquilino Ribeiro = Prémio Nobel para um Português”. Sabia que o director do Jornal era amigo do escritor de “Quando os lobos uivam”, editado em 1959 (e logo processado pela ditadura), ainda amigo de Ferreira de Castro, o escritor de “A Selva” e do farense Assis Esperança, autor de “Servidão”. Mário Lyster Franco, o director do Correio do Sul, mantinha essa amizade e admiração dos velhos camaradas que passaram pela revista de propaganda socialista, “A Batalha Sindicalista”, fundada em 1913. Só Lyster Franco passou de anarquista ao movimento político do Estado Novo, membro da União nacional. E, os seus amigos, ficaram na esquerda republicana. No entanto, Mário Lyster Franco ficou refém na amizade desses homens da cultura portuguesa. Eu sabia desse embrião latente que o militante inseguro do Estado Novo se movia. Mário, político e director do Correio do Sul, semanário de cultura aberta, e que vinha como arauto do “Futurismo” por Faro, 1916/17, aceitaria a minha “atrevida” crónica, sendo a primeira nesse seu jornal, onde estava a sua maior força de homem regional. Se assim não fosse como se publicariam textos do professor Elviro Rocha Gomes, (militante comunista) do jurista Filipe de Almeida Carrapato (militante do MUD), dos poetas António Ramos Rosa (militante do MUD) e António Vicente Campinas (militante comunista), entre outros? E assim lá fui de papel escrito, mais em esperança que incontrito. Lembro das suas interrogações: Há alguma ligação ao meu saudoso amigo doutor, Cabrita? Que sim, confirmei, vagamente. Sente-se aqui, rapaz! E desabafou. É de Messines, terra de tanta gente que admiro… E, numa carícia ao papel, disse: “Isto não é fogo, é uma bomba!” Fez um breve silêncio, relendo o texto. E veio suave… Mas vamos publicar. O Aquilino merece… E os gajos (referia-se à censura PIDE) que vão à merda. Mas terá de ser assinado com pseudómino. Que alívio! Pois sim, disse. Pode ser Miguel Cristiano. O homem deu uma larga gargalhada. Que assim seja. Vamos ver no que isto dá. E deu uma publicação que foi o diabo, E por quê? Era de ver o que naquele dia 11 de Fevereiro de 1960, no Correio do Sul, n.º 2191, se publicava. Veio a Pide em força. Dado que o Correio do Sul estava isento de passar previamente à censura. E logo. Quem é este Miguel Cristiano, senhor doutor Mário Lyster Franco? O director, jornalista, advogado, presidente da União Nacional do Algarve, mandou-os onde prometera. E tudo foi esquecido, politicamente. Então, no que consistiu o escrito, meu? Pois e só nisto, essencialmente, que reproduzo em síntese: Este ano que a Academia Francesa recomenda a Portuguesa à Sueca (tardiamente, mas recomenda) que apoiam mestre Aquilino Ribeiro, a arte das letras lusas, à candidatura do Prémio Nobel, o máximo literário (…) Sabemos que o jornalista Barradas de Oliveira brada mais alto o nome poeta António Correia d’Oliveira, autor de “Pátria Nossa, Pátria Vossa (1937)”.

Vir contrariar uma vontade absoluta, foi uma ousadia! Hoje penso, naturalmente: Assim se constrói a verdade para um futuro. O Miguel Cristiano acabara no “Correio do Sul. Mas renasceu um outro pseudómino, para outros escritos, até 1962. Aquilino Ribeiro morreria a 27 de Maio de 1963. Pouco antes publicara “Tombo no Inferno”, em que a Sociedade Portuguesa de Escritores, sob presidência de Ferreira de Castro, homenageia o 50º aniversário da publicação do primeiro livro de Aquilino, “Jardim das Tormentas”. Hoje, Aquilino está ao lado do nosso João de Deus, no Panteão Nacional.

Nota: O autor não escreveu o artigo ao abrigo do novo acordo ortográfico

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