TIAGO BOTELHO

LP
LPhttps://www.jornaldoalgarve.pt
Colaboradora. Designer.

 Amigos para sempre

 

Estamos a atravessar um período de especial dificuldade, já não apenas para aqueles que, infelizmente de forma crescente, não têm emprego, mas também para a generalidade das famílias que vivem “com o dinheiro contado”. Os impostos subiram, os preços subiram e, para muitos, os salários reduziram-se.

Serve esta introdução para dizer que sei à partida que neste contexto, em que assistimos ao agravar de dificuldades na vida de quem já não tinha desafogo, enquanto as verdadeiras fortunas seguem cantando e rindo, se torna mais difícil defender certas causas que apelam à dádiva.

Ainda assim, verificámos com alegria a resposta entusiástica dos portugueses à campanha do Banco Alimentar no final de 2010. Estamos de parabéns por termos aumentado significativamente a nossa capacidade de dar, quando mais nos custa. Fará, talvez, falta sistematizar e instituir mais formas de podermos participar nesse tipo de ajudas de forma regular.

Mas queria abordar outra temática. A da protecção aos animais domésticos. É comum citar Ghandi com a célebre frase “a grandeza de uma nação e o seu progresso moral podem ser avaliados pela forma como esta trata os seus animais” quando se trata de falar da protecção aos nossos “melhores amigos”. É claro que, objectivamente, podemos substituir naquela frase a palavra “animais” por várias outras, como por exemplo “recursos biológicos”, “patrimónios culturais” ou até “idosos”. Mas acho que a frase faz sentido porque pressupõe que nação deve não só assegurar aquilo que é óbvio (condições de vida e património) mas ir mais além. E é por isso que respeitar os animais, significa mais desenvolvimento.

Lanço o desafio para que os poderes públicos assumam as suas responsabilidades a dois níveis. Um primeiro nível, chamemos-lhe correctivo: Proceda-se à recolha sistemática e efectiva dos animais domésticos errantes e dos que são detidos por particulares mas que são alvo de maus-tratos. Dê-se tratamento, abrigo, alimento e carinho. E, sobretudo, proceda-se à esterilização de todos os animais recolhidos. Os que infelizmente não forem viáveis devem ter direito a uma eutanásia no mais curto espaço de tempo e sem dor. E aqui é imprescindível que as autarquias tenham estruturas próprias ou contratualizadas para o efeito. Não se compreende, por exemplo, que Faro não tenha um canil/gatil, tendo apenas um protocolo com uma entidade privada que está a “rebentar pelas costuras”.

Um segundo nível, preventivo: Imponha-se a identificação por “chip” para todos os animais e responsabilize-se os donos dos que forem abandonados e maltratados. Regulamente-se, restrinja-se e fiscalize-se a actividade de criação e revenda de animais. Indo mais longe – imponha-se a esterilização obrigatória dos animais criados que não sejam expressamente destinados para a reprodução! Pode-se perguntar se não será excessivo e se não se estará a interferir no direito privado de dispor dos animais. Eu respondo, não! É, antes, nosso dever impedir o continuar do sofrimento dos animais com os suces-sivos abandonos e maus-tratos. Antes prefiro que se extingam algumas espécies de animais domésticos, do que os exemplares que se multiplicam sejam sujeitos à dor, à fome e à indiferença.

É indispensável que olhemos para (mais) este drama sem a tentação fácil de dizer que “há mais onde gastar o dinheiro”. É dever da sociedade acolher, tratar, alimentar e acarinhar os seus animais. Fica o repto para que o Algarve seja também exemplo nesta área. Há felizmente, bons casos de autarquias e associações que se preocupam, incentivemos a que sejam mais.

Os cães e gatos não são brinquedos nem são descartáveis. São seres generosos que apenas anseiam poder partilhar o seu carinho e amor com seres humanos que os tratem bem. Porque é disso que se trata, da responsabilidade que temos de respondermos com a nossa amizade a seres que são nossos amigos incondicionais. Os melhores e para sempre.

*Economista
http://www.vialgarve.org

Em memória do Pluto que deu a alegria de ser o melhor amigo da minha família de 25 de Maio de 1997 a 21 de Fevereiro de 2011.

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