Todos os dias são vendidas 12 casas aos ingleses. E a partir de agora?

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No refúgio dourado que é o Algarve para os britânicos, poucos acreditavam que o Brexit iria ganhar mas o dia acordou gelado apesar das temperaturas quentes da época. Mercado tradicional do imobiliário português, os ingleses sempre permaneceram fiéis ao sol e às praias algarvias e só no primeiro trimestre deste ano compraram 1.060 casas, uma média de 12 por dia (números APEMIP), a esmagadora maioria a sul do país. Mas agora que a libra caíu a pique, tornando o preço das casas subitamente menos atrativo, será que este ritmo de vendas se manterá?

Numa ronda de contactos feita junto de resorts, imobiliárias e proprietários ingleses que há anos vivem no sul do país, percebe-se que o impacto sobre o mercado imobiliário será imediato e penalizador, mas ninguém acredita que este não se irá ajustar a médio prazo dada a predileção histórica desta comunidade pelo nosso país.

Carlos Leal, CEO da United Investments Portugal, detentora do Pine Cliffs, um resort localizado em Albufeira, lida diariamente com todo o tipo de investidores desde os individuais, até aos institucionais onde se incluem a banca e os advogados dos fundos imobiliários e apesar de todos partilharem a ideia de que o referendo seria renhido ninguém acreditava neste desfecho. “Não recebemos bem a notícia, claro! Sabíamos que seria uma decisão apertada mas a verdade é que nunca pusemos a hipótese que o Brexit poderia ganhar. A curto prazo isto terá um impacto sério pois o Algarve depende muito do mercado inglês que representa 40% do imobiliário algarvio”, afima o responsável.

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Mas, ressalva, “depois do choque inicial e até de alguma incerteza a curto prazo, o mercado irá ajustar-se. Veja-se o que aconteceu em 2008 quando a libra desceu para 1,10. Hoje chegou a 1,28, acima dos valores de 2008. Vamos ter impacto? Sim, mas se recuperámos em 2008, e continuámos a vender também iremos recuperar agora”.

Uma tranquilidade relativa paira também sobre a Garvetur, a maior empresa imobiliária independente no Algarve, com 36 agências e mais de uma centena de comerciais no terreno. “Tradicionalmente, os ingleses têm representado cerca de 30% da nossa carteira de clientes, depois dos portugueses que asseguram 50%. Compram por todo o Algarve mas estão muito concentrados entre Albufeira e a Quinta do Lago pois gostam de estar junto ao litoral e adoram golfe”, diz Reinaldo Teixera, administrador da Garvetur.

Luxos que se pagam. Na carteira de imóveis da Garvetur, os ingleses compram casas ou apartamentos entre os 200 mil e os 2 ou 3 milhões, e e por isso o responsável aponta para uma compra média na ordem dos 400 mil euros. E agora? “A desvalorização da libra vai seguramente ter impacto mas este mercado é comprador em Portugal ainda antes do nosso país ter aderido à União Europeia por isso acreditamos num reajuste”, diz Reinaldo Teixeira, dando como exemplo os brasileiros que tanto sofreram com a desvalorização do real e que nem por isso refrearam as suas compras imobiliárias em Lisboa, o seu mercado preferencial.

Vistos gold para britânicos?

Pedro Fontaínhas, diretor-executivo da Associação Portuguesa de Resorts (APR), que agrega 27 entidades (alguns deles fundos com mais de um resort na sua carteira), fala de um efeito imediato do Brexit: “Está a sentir-se já: quem tinha escrituras para fazer hoje e trocou as suas libras, sentiu de imediato o Brexit”.

Lembrando que apesar da aprazível ‘invasão francesa’ ter chegado ao imobiliário português, uma novidade recente, estes são em número ainda pouco expressivo quando se trata de comprar em segmento mais alto, onde se incluem os resorts. “O mercado inglês é diferente, é fortíssimo neste segmento e diria que representa 50% de quem comprou junto dos nossos associados”.

Em ‘modo de crise’, estava Luís Lima, presidente da APEMIP (Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal) quando o Expresso o contactou, a poucos minutos de embarcar para Londres onde iria ter uma reunião de emergência com a sua congénere britânica para avaliar possíveis soluções para esbater o seu efeito. “A nossa mensagem não é de alarmismo. Vamos discutir todas as hipóteses e uma poderá ser a promoção dos vistos gold junto deste mercado, uma vez que vai sair da União Europeia”.

Uma estratégia para clientes potenciais que não se quer perder. E para os britânicos que já cá estão instalados, uma comunidade que se estima rondará as 50 mil pessoas? Que risco se corre da desvalorização da libra minar o poder de compra que aqui possuem, pressionando-os de regresso ao seu país?

Michael Reeve, presidente da Associação de Proprietários Estrangeiros em Portugal (AFPOP) é taxativo em dizer que “os britânicos que estão em Portugal vão continuar por cá”. Mas sim, sofrerão de forma significativa com a desvalorização. “Até porque nem todos vivem no triângulo dourado. Muitos estão por Tavira, Lagos, Monchique, Silves e estes vivem dentro dos padrões normais da classe média”.

Um ‘sufoco’ que não será partilhado da mesma forma pelos clientes do Pine Cliffs, por exemplo. “Dificilmente uma pessoa que tem uma casa de um milhão ou dois não a consegue manter e decide vendê-la porque a libra desvalorizou. Mas só o futuro o dirá. Vamos esperar para ver”, remata Carlos Leal, responsável pelo empreendimento.

Marisa Antunes (Rede Expresso)

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