Treinamos bem ou ensinamos melhor?!

No dealbar de mais uma época desportiva, talvez que tempo oportuno para a feitura de um criterioso balanço sobre as incidências, sobre os resultados alcançados, em função do que havia sido planeado, como se nortearam comportamentos, se e com que assertividade ‘tudo’ foi acontecendo.
Balanço que no quadro das responsabilidades a atribuir, na ótica dos dirigentes e no que à ligação com o quadro de treinadores diz diretamente respeito, se deva considerar como questão nuclear a solidez do conhecimento do jogo, com perfis adequados e possuidores de conduta pedagógica exemplar.
Dirigentes que, vezes quantas, assumindo um papel de decisores na escolha dos treinadores, na medida em que na grande maioria das situações essa tarefa, como seria desejável, não é entregue a um efetivo, competente e qualificado coordenador técnico, ou porque não existe, de todo, ou, noutros casos não lhes é dada essa autonomia e responsabilização ou, ainda, um pouco mais desaconselhável…não existe coordenador técnico, mas… pasme-se(!), há ‘coordenação técnica’…
É que, para se poder corresponder de forma responsável e responsabilizante, aos legítimos direitos dos pais/encarregados de educação, enquanto contribuintes para a atividade que os seus filhos desenvolvem no clube, os dirigentes deverão ‘retirar-se’ da área técnica, assumindo, isso sim, funções não menos importantes nas áreas administrativa e/ou burocrática, em respeito pelo desenvolvimento do processo – é disso que se trata! – ensino-aprendizagem que, como foco principal, deverão pugnar pela criação e desenvolvimento da otimização dos recursos, visando a evolução dos jogadores e do nível da prática do jogo.
Como terá, então, decorrido a época? Correspondeu às expetativas dimensionadas à partida, a quando de um assertivo e bem elaborado programa de ação, particularmente dirigido aos escalões de formação? Ou, ao invés, ficou aquém do que era expetável pudesse ter sucedido?
Ligada a esta problemática, no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, que contempla o ato de treinar, o treinador e o jogador deverão estabelecer uma parceria.
Parceria, bem definida desde o primeiro momento: ao treinador competirá ensinar, trilhando o caminho que a agulha da ‘bússola’ indicar e tendo verdadeira consciência de saber que sabe, o que sabe e de como – com que referências e modelos – adquiriu o saber, sendo de decisiva importância saber como fazer e não apenas de saber o que fazer; ao jogador, se e com entusiasmo, deverá mostrar disciplina, determinação e respirando auto-confiança nas tarefas a desenvolver, sendo-lhe facultada a natural expetativa de encontrar no treinador a capacidade de elaborar sessões de treino que levem a produzir adaptações e mudanças que possibilitem ser cada vez mais e melhor atleta-pessoa, veículada por uma assertiva e bem conduzida aprendizagem.
Para avalisar as nuances deste despretensioso ‘ensaio’, talvez que importe trazer ao ‘palco dos acontecimentos’, sem ruído nem holofotes acesos, mestre – porque sábio! – Teotónio Lima, pioneiro e impulsionador de projetos inovadores e de (grande) referência, enquanto mentor, pedagogo e treinador de alto gabarito. Treinador, a quem outro mestre, prof. Hermínio Barreto, um dia designou como de: “O maior de todos nós, treinadores!”. Legou-nos o mestre: “Ensinar primeiro e treinar depois deverá ser necessariamente a prática que os treinadores responsáveis pela formação desportiva dos jovens têm de seguir como opção pedagógica, resultante de uma metodologia de ensino dos jogos desportivos coletivos que defenda em primeiro lugar os interesses e as necessidades das crianças e dos mais jovens”.
Sustentando, ainda, o mestre, suscitando uma forma mais exigente para com os jovens treinadores: “Um dos aspetos que mais deve cuidar o treinador é a de constante intercâmbio de opiniões com outros treinadores de maior experiência para assim poder desenvolver e aumentar os seus conhecimentos”.
Como se não bastasse, um outro mestre – porque sábio! – aparece-nos ‘no caminho’…, lançando, enquanto ideia-pensamento, este legado/advertência: “O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas a ilusão do conhecimento”.
E, de advertência em advertência…, a fechar este time out, a sublime(!) ideia-pensamento de outro mestre – porque sábio! – António Damásio: “Antes de chegar ao saber é preciso percorrer o ser e o sentir”.
Tudo isto, afinal, para podermos interiorizar uma forma de ser e de estar que nos conduza a, assertivamente, nos constituirmos em navegadores com… bússola!
Ensinar primeiro, para depois se treinar melhor, a que se seguirá o velho, e sempre renovado, axioma de que: “Jogaremos conforme treinarmos!”
Pela simples razão de que o sucesso, o êxito não se compra, apenas se deverá merecer!

Humberto Gomes
*“Embaixador para a Ética no Desporto”

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