UAlg é a universidade do País com mais estudantes estrangeiros

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Estudantes de 86 nacionalidades fazem da instituição uma enorme Torre de Babel.
Em percentagem, a Universidade do Algarve é a instituição universitária do País com maior número de estudantes estrangeiros. Em 2018/2019, eram estrangeiros 1724 dos 8264 alunos inscritos. Uma percentagem de 20,9%. Metade deles são brasileiros, mas também há muitos espanhóis e italianos

A Universidade do Algarve (UAlg) é a universidade portuguesa com maior percentagem de estudantes estrangeiros e as previsões apontam para o crescimento do número de estudantes de outras nacionalidades, disse esta semana ao JA o reitor da instituição, Paulo Águas. Ao todo, já são 86 nacionalidades.

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Dos 8264 estudantes inscritos nos cursos de licenciatura, mestrados e doutoramentos na época de 2018/2019, um percentual de 20,9% eram de nacionalidade estrangeira (1724 alunos), contra 6540 portugueses, de acordo com os números da instituição, a que o JA teve acesso.

O número de estrangeiros tem vindo a crescer sustentadamente desde o ano letivo de 2007/2008, quando apenas 4,2% dos estudantes eram estrangeiros, altura em que a percentagem de não-nacionais nas universidades do País era semelhante, de 4,9%.

Entre 2007/08 e 2012/13 a percentagem de estudantes estrangeiros na UAlg foi muita próxima da registada a nível nacional.
Contudo, a partir daí tem-se acentuado a divergência entre a percentagem nacional e a da UAlg: hoje, contra os 20,9% da instituição algarvia há um total médio de apenas 15,1% no País, o que corresponde a 58092 alunos estrangeiros a estudar nas universidades portuguesas.

Esse diferencial é especialmente acentuado nas licenciaturas com mestrados integrados (licenciaturas complementadas com um período, normalmente de dois anos, já integrados na formação), aquela área em que há maior número de alunos: no ano letivo transato, 17,6% dos 6115 estudantes nessas condições eram estrangeiros (1078 alunos), enquanto a nível nacional essa percentagem não excedia os 11,5%.

De acordo com o reitor da Universidade, estima-se que no ano letivo já em curso, 2019 /2010, a percentagem suba dos atuais 20,9% para um índice superior a 23%, uma ascensão consistente com as diferenças que se têm verificado ano após ano desde 2012/2013.

A nível nacional, a UAlg bate todas as universidades portuguesas quanto à percentagem de estrangeiros (isto é, na proporção entre o total de estudantes inscritos na organização e o número de estrangeiros), mas não em termos absolutos, já que há várias universidades do País com maior número de estudantes e portanto também de estrangeiros.

De todas as instituições de ensino superior nacionais, só os Institutos Politécnicos de Bragança e da Guarda ultrapassam o percentual algarvio, com 34,2% e 22,9% respetivamente. No entanto, no “ranking” das universidades (excluindo politécnicos) a UAlg ocupa o primeiro lugar (20,9%), seguida de perto pela Universidade Nova de Lisboa (20,5%) Universidade da Beira Interior (19,8%) e Universidade de Coimbra (19%).

Por nacionalidades, no último ano letivo, 838 dos 1724 alunos estrangeiros eram brasileiros (48,6%), seguindo-se os espanhóis (127 alunos), italianos (71) e alemães (58).

A maior parte dos estudantes estrangeiros cumprem as chamadas inscrições de grau, isto é, licenciaturas completas, mas dos 1724 alunos de outras nacionalidades 413 cumprem pequenas passagens pela universidade, normalmente de um semestre. É o que acontece com os chamados Erasmus, cursos europeus de pequena duração em universidades estrangeiras que posteriormente conferem créditos aos estudantes nas suas instituições de origem.

No que respeita aos brasileiros, aposta pensada e ganha pela instituição, o número de estudantes em mobilidade tem vindo a crescer (foram 124 no ano letivo transato), mas nas licenciaturas completas os diferenciais são ainda mais grandiosos: “Começámos há cinco anos com 50 estudantes nessas condições e este ano tivemos 300 só no concurso especial promovido pelo Governo”, explica o reitor Paulo Águas, garantindo que no presente ano letivo o número de brasileiros a cumprir licenciaturas completas poderá ascender a mais de 1000 (no ano letivo passado eram 838). Num total de estudantes estrangeiros que poderá ultrapassar os 2000 segundo o mesmo responsável.

A ascensão do mercado brasileiro deve-se a uma estratégia que incluiu a presença em feiras no Brasil (com o apoio financeiro do Programa Operacional Regional do Algarve – PO), a insistência no marketing digital e a distribuição de notícias nos media brasileiros.
“É um mercado que funciona muito com base no passa-palavra, falam uns com os outros e acabam por criar desejo de vir e vêm”, observa o reitor da Universidade do Algarve.

Vantagens competitivas intrínsecas ao Algarve, como o sol, as temperaturas amenas, a proximidade do mar, ou a existência de um aeroporto internacional com voos para toda a Europa acabam por atrair também os estudantes estrangeiros, vantagens a que se soma a já assinalável reputação da instituição algarvia em várias áreas, como Ciências do Mar, Ciências da Saúde e Turismo.

Para se atestar a internacionalização em alguns setores universitários, o curso de Biologia Marinha tinha no passado ano letivo 80 alunos de 20 nacionalidades diferentes. No total dos estudantes, 64% eram estrangeiros.

Por exemplo, no mestrado em Gestão (Management), com 55 inscritos, 85% são estrangeiros, de 25 nacionalidades; o mestrado em Sistemas Marinhos e Costeiros, com 31 inscritos, tinha 77% de estrangeiros, de 11 nacionalidades.

O atual reitor sublinha que a própria universidade se transformou numa “Torre de Babel”, com salas e corredores a serem palco de conversas em múltiplas línguas. Um poliglotismo que se estende às aulas: “Temos mais de uma dezena de mestrados em língua inglesa”, exemplifica Paulo Águas.

As vantagens deste convívio cultural não se traduzem apenas no prestígio para a instituição nem na captação de meios de financiamento. Há benefícios mais intangíveis mas muito mais duradouros: “É muito mais rico para o estudante e faz parte da sua aprendizagem, de ser um cidadão pleno, conhecer outros jovens de outros países e cultura. Estamos a enriquecer os estudantes residentes em Portugal, que sem saírem do País têm contactos com o mundo inteiro”.

A internacionalização da UAlg é vista pelo ex-reitor Adriano Pimpão (que cumpriu dois mandatos, entre 1998 e 2006) como fundamental para a abertura e qualidade da instituição: “A internaciona-lização tenta cumprir uma missão da universidade, que é ser um centro de liberdade, tolerância e respeito pela verdade. Esse cosmopolitismo e abertura às diferentes frentes em todo o mundo é fundamental para o futuro da instituição”.

A internacionalização da Universidade é considerada pelo ex-reitor João Guerreiro (2006//2013), como fundamental: “Não só quanto à investigação científica como quanto à captação de estudantes internacionais. Na visão da Universidade como no passado foi a região. Foi sempre uma região cosmopolita, com grande circulação de gente de várias nacionalidades”.

Já António Branco, o reitor que antecedeu o atual titular Paulo Águas, sublinha que a Universidade é uma enorme montra do mundo, com estudantes de 86 nacionalidades diferentes: “Essas 86 proveniências dizem respeito a grupos culturais muito diferentes, diferentes práticas religiosas, diversas línguas. Esta diversidade é óbvia nesta Universidade e não gera um único conflito.

Esta é a prova, enfatiza, de que, colocando “toda a gente a funcionar com toda a gente, desse convívio cosmopolita pode nascer a compreensão profunda da importância da tolerância, da paz e do convívio das diferenças”.

João Prudêncio

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