Um debate pouco esclarecedor. E sabes porquê, António?

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Há algo de voyeurista num debate como o que assistimos esta noite entre António José Seguro e António Costa. Os dois candidatos a candidatos a primeiro- ministro pelo PS, camaradas do mesmo partido, olham-se nos olhos e tratam-se por “tu” em direto na TV e nós, espectadores, sentimo-nos a escutar atrás da porta a conversa que os dois certamente tiveram logo no dia 28 de maio, quando Costa foi ao largo do Rato explicar a Seguro porque decidira avançar com uma candidatura à liderança do PS: Seguro acusa-o de “deslealdade” e “traição” e Costa dribla a acusação, recusando o que chama “ataque pessoal”, preferindo falar de “imperativo de consciência” perante o resultado pouco confortável que o PS obteve nas eleições europeias e o que o fez antever que “dificilmente o PS ganharia as legislativas”. Seguro recorre à história e ao ano em que António Vitorino ganhou ao PSD, nas europeias de 1994, por escasso meio ponto percentual e, no ano seguinte, António Guterres ganhou as legislativas: “E sabes porquê, António? Porque nessa altura havia solidariedade”.

E se era para isto, para este lavar público da roupa suja, que era inevitável que este debate serviria, ainda assim fica um certo amargo de boca ao fim dos 35 minutos de frente a frente, quando, de um lado, se instala a certeza de como é pequenino este conflito que vem ocupando o PS nestes três meses e ainda o ocupará por mais três semanas; e, do outro, se consolida a dúvida: afinal, o que separa estes dois socialistas, praticamente da mesma idade, ambos vestidos de escuro e gravata vermelha, ambos prudentes com as promessas antes de eleições, ambos defensores de António Guterres para a Presidência da República?

Seguro levava bem estudada a gestão do tempo de que sabia dispor para o debate e ocupou-o em boa parte a demonstrar a “deslealdade” e “falta de solidariedade” do adversário, munindo-se de dados estatísticos (sobre os resultados das europeias nos partidos socialistas dos 28; sobre a evolução das intenções de voto no PS desde 2011 até aqui): “É a primeira vez a seguir ao 25 de abril que um líder que ganha é contestado. Ninguém compreende isto em sítio nenhum”.

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Costa não teve grande hipótese de ignorar os ataques, ainda que o tenha tentado por algumas vezes: “As pessoas estão é preocupadas com o país”. E que oferece ele ao país? “Um suplemento de confiança, uma energia renovadora”. Quanto ao mais, explica aos que lhe exigem concretização: “Temos de ser prudentes. As legislativas são daqui a um ano e neste próximo ano há muitas variáveis”. Tinha de apresentar mais, muito mais, para convencer os portugueses que ele sim, é o protagonista para a alternativa que diz não ver no atual secretário-geral socialista. Ou não. O mais certo é quem já se inscreveu nas primárias de 28 de setembro já tem a sua opinião formada. Para quem tinha dúvidas, não terá sido o debate de hoje a esclarecê-las. Será o de amanhã?

PS – Momentos zen do debate, um para cada lado: Seguro a garantir, num gesto dramático, que se demitirá se tiver de aumentar impostos; Costa a assumir como seu o compromisso de Seguro de baixar o IVA da restauração.

RE

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