Em 1976, quando cá cheguei, o Algarve era uma região esquecida pelo poder centralizado no Terreiro do Paço, onde quase tudo estava por fazer. Para aqui se chegar, vindo de Lisboa, demorava-se umas cinco horas de automóvel, e de Faro para Alcoutim, Sagres ou Aljezur, era como ir ao fim do mundo.
Os jornais da capital praticamente ignoravam o que aqui se passava. E apenas a ocorrência de situações de calamidade, como a vivida e anunciada em 1983 por um primeiro ministro, atraía as atenções dos governantes. No resto, iam valendo os órgãos de comunicação regionais que não se cansavam de denunciar a desgraça e o isolamento.
Os títulos então existentes constituíram um suporte importante na cadeia de pressão exercida sobre os poderes em Lisboa. Destaco o papel do Jornal do Algarve e de Fernando Reis, seu director e correspondente da Agência Noticiosa NP ( Lusa ), nas lutas pela Universidade, pela contrução do Hospital Distrital e outros equipamentos e infraestruturas como: electrificação, saneamento básico, vias de comunicação, escolas, a marginal e a ponte do Guadiana, a título de exemplos. Sem nunca perder de vista a bandeira da regionalização.
Foram anos de grandes dificuldades e de luta quase heróica pela sobrevivência e independência dos projectos jornalísticos, mas simultaneamente de enorme estímulo. Desse tempo retenho nomes e amigos incontornáveis do jornalismo algarvio, muitos deles colaboradores regulares do Jornal do Algarve: João Leal, Ofir Chagas, Luís Horta, Arménio Aleluia Martins, Libertário Viegas, Hélder Nunes, Marcelino Viegas, Neto Gomes, Lopes Martins, José Mealha, José Cruz e outros mais que me vão desculpar a omissão.
Muitos títulos ficaram pelo caminho, perante o encolher de ombros habitual dos agentes políticos e empresariais, autarcas e entidades públicas. Ainda assim, o Jornal do Algarve conseguiu resistir e ultrapassar obstáculos e indiferenças. Com altos e baixos, naturalmente, mas sem abdicar dos princípios subjacentes à ideia do seu fundador, José Barão, e ao seu objectivo de afirmar o Jornal do Algarve, como um projecto de referência na imprensa regional do país.
Já correram 65 anos. O Fernando, entretanto, partiu num dia triste para o jornalismo algarvio. A chama que ele deixou viva é agora empunhada pela Luísa, sua mulher. E ela não vai permitir que se extinga.
Ramiro Santos
*Jornalista aposentado da TSF e Lusa