Uma Egípcia em Portugal durante a Pandemia

Como egípcia que mora em Portugal, tenho uma mistura de sentimentos sobre a experiência de estar no meio da crise do coronavirus em Portugal. Por um lado, sinto-me com sorte. Os testes são raros no Egipto, os hospitais rejeitam os doentes, o governo nunca fez um ‘lockdown’ sério e também não diz os números reais de casos no país. No mês passado, eu suspeitava ter o vírus mas foi falso alarme. Em menos de 24 horas, fui testada. Em menos de 20 horas, recebi os resultados. Depois, uma médica de SNS ligou-me todos os dias durante uma semana para confirmar que a minha doença era apenas uma gripe forte.

Quando contei à minha família e amigos no Egipto, eles não podiam acreditar (a situação é muito diferente no mundo menos desenvolvido, algo muito importante a considerar para combater a pandemia no nível global). E é por isso que tenho uma mistura de sentimentos: estou a experimentar uma situação mais privilegiada do que no Egipto e até mesmo que noutros países europeus mas é triste saber que salvar vidas não é uma opção para todos. Não é a vida o que mais importa e algumas vidas importam mais que outras no mundo.


No entanto, Portugal gere bem a crise a nível médico, mas relativamente a meios subsistência não tanto. Há muitas lutas a enfrentar pelos jovens e trabalhadores precários em Portugal. Enquanto muitos países começaram a dar ajuda financeira às pessoas que perderam os seus trabalhos, não vimos nada semelhante no Portugal. Tiago, o colega de casa do meu amigo, por exemplo, era motorista de Tuktuk antes de crise e agora sobrevive com comida grátis que as pessoas dão, também não pode pagar a renda.

Desnecessário informar o que está acontecendo no sector artístico. Os artistas e trabalhadores na área da cultura sempre lutaram pagar as contas. Mas agora têm a sobrevivência básica em risco. Um outro amigo perdeu o seu trabalho no call centre no meio do lockdown sem aviso prévio. Os contratos dos muitos trabalhadores terminam sem a intervenção do governo no sentido de proteger seus direitos. Agora, não é o tempo para proteger os grandes empresários ou para salvar as empresas multinacionais, mas é antes o tempo para tomar medidas sérias para proteger os meios de sobrevivência, não só as vidas.

Sarah Nagaty

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