Vacina BCG vai deixar de ser dada a todas as crianças

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As crianças que nascerem em Portugal a partir do próximo ano serão as primeiras nos últimos 50 anos a não ficarem, literalmente, marcadas pela vacina BCG contra a tuberculose. A marca que a grande maioria dos portugueses exibe na pele começará assim a desaparecer.

A proteção universal contra a tuberculose vai ser substituída pela vacinação de crianças em comunidades de risco, onde a circulação do bacilo tende a ser mais frequente. A alteração é uma das novidades introduzidas no Programa Nacional de Vacinação (PNV) que estará disponível já no início de 2017.

O fim da vacinação universal contra a tuberculose começou a ser discutido pelos peritos a pedido da Direção-Geral da Saúde (DGS) no final de 2013, na sequência da diminuição dos novos casos da doença em Portugal. Na ausência de perigos como “elevada incidência, difícil acesso da população ao diagnóstico, tratamento e medicação preventiva”, deixou de ser necessário continuar a imunização de todos os recém-nascidos e em janeiro a alteração foi votada por unanimidade.

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BCG a pedido até ao fim do ano

A comunidade científica portuguesa optou por “uma estratégia de vacinação de grupos de risco”, sobretudo de algumas comunidades nas áreas suburbanas do Porto e de Lisboa. A solução inspira-se no modelo adotado por outros países, como Chipre, Eslovénia, Finlândia, França, Reino Unido, Noruega ou Suécia. Na vizinha Espanha, e à exceção do País Basco, por exemplo, a vacina não é administrada.

Para já, vai vigorar um período de transição. “Até 1 de janeiro de 2017, a vacinação está indicada para crianças menores de seis anos de grupos de risco. As crianças com menos de seis anos não pertencentes a grupos de risco, mas cujos cuidadores desejem a vacina BCG serão vacinadas”, adianta a DGS.

Nova vacina para grávidas

E enquanto a BCG sai, entra a tosse convulsa para mais crianças. A atual vacinação só é possível a partir dos dois meses de vida e o objetivo é acabar com o período ‘a descoberto’, que matou sete bebés entre 2012 e 2015. Assim, as grávidas terão acesso à vacina para poderem transmitir a imunidade aos filhos, deixando-os protegidos entre o nascimento e a administração da primeira dose.

Um grande número de portugueses está vacinado contra a tosse convulsa, contudo por ser provocada por uma bactéria e não por um vírus, a imunidade vai diminuindo com o passar do tempo, permitindo o aparecimento de novos casos da doença. Segundo os peritos da DGS, os bebés são infetados pelos familiares com quem contactam nos primeiros dois meses de vida.

As crianças mais crescidas, no caso as raparigas, vão beneficiar ainda de uma proteção alargada contra o agente de cancros genitais, como do colo do útero. A vacina contra o Vírus do Papiloma Vírus Humano (HPV) passará a atuar sobre nove genótipos, ou seja, mais do dobro dos que agora estão incluídos, e em idade mais precoce. A vacinação passa a ser feita aos dez anos e não entre os dez e 13.

Seis em um

O novo programa – a apresentar na próxima segunda-feira na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, com a presença do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes – é ainda diferente pela inovação. As 13 doenças atualmente com proteção garantida vão manter-se, mas muitas das vacinas serão agora mais modernas. Por exemplo, aos dois e aos seis meses de idade as crianças serão picadas apenas uma vez e protegidas contra hepatite B, meningite B, difteria, tétano, tosse convulsa e poliomielite, todas juntas numa vacina hexavalente.

Conforto semelhante será proporcionado aos adultos. A vacina do tétano vai garantir proteção durante o dobro do tempo atual, ou seja, ao longo de 20 anos. A primeira renovação deve acontecer aos 25 anos e daí em diante a cada duas décadas até aos 85. Igualmente para permitir memorizar melhor o esquema vacinal, todas as crianças passam a ser vacinadas, além da fase pós-nascimento, sempre aos cinco e aos 10 dez, permitindo aos pais reduzirem possíveis esquecimentos.

Outra ferramenta para facilitar a adesão e o acesso aos dados é a criação de um registo eletrónico. O atual boletim de vacinas deverá ser dispensado ainda durante o ano de 2017.

Fatura de 35 milhões de euros

O PNV renovado vai custar mais ao Estado. Os 30 milhões de euros orçamentados para este ano deverão chegar aos 35 milhões de euros no próximo ano. Ao Expresso, o diretor-geral da Saúde, Francisco George, garante que fatura acrescida “será compensada pelos resultados”. O médico afirma que a nova estratégia “coloca Portugal na linha da frente em termos de qualidade, com um programa que moderniza e amplia de uma forma muito inovadora o PNV”.

Portugal vacina quase todo o universo de 90 mil a 100 mil crianças que nascem anualmente no país. “Temos uma taxa de imunização de quase 100%, continuamos no topo a nível mundial, salienta Francisco George. As vacinas do PNV são gratuitas, não implicam o pagamento de taxa moderadora nem necessitam de receita médica. O utente só precisa de dirigir-se a uma unidade pública de vacinação, como um centro de saúde.

Vera Lúcia Arreigoso (Rede Expresso)

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