VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

Pouco mais de quarenta anos nos separam do 25 de Abril de 1974. É sempre tempo de fazer balanços e a tentação todos os anos, de uma forma ou de outra, nos ocorre.

No meu caso com uma intervenção muito directa na luta contra a ditadura, já que os últimos seis anos foram passados no interior do País, integrando o aparelho clandestino do PCP, também me ocorre, desta vez, deixar-vos a minha ideia de balanço.

Como todos os balanços há sempre um lado positivo e outro negativo, mas creio que muitos concordarão que o saldo do derrube da ditadura de mais de 40 anos pelo Movimento das Forças Armadas, (MFA) seguido de imediato de um alargado apoio social, marca uma viragem nos destinos de Portugal e do modo de vida dos portugueses.

Todavia convém lembrar que a situação criada com a conquista da liberdade, bem maior para o que vinha a seguir, ou seja, a reconstrução de um país amordaçado, semianalfabeto, atrasado e empobrecido, a contas com três frentes de guerra em defesa do império colonial, guerras que exauriam as mais que débeis finanças publicas, mataram milhares de jovens e provocaram em muitos dos sobreviventes traumas que os acompanharam ao longo das suas vidas, Pais exaurido pela emigração por razões económicas mas também políticas, isolado internacionalmente, profundamente religioso com a hierarquia da igreja posta ao serviço da defesa da ditadura, é bom lembrar, que foi a partir de todas estas adversidades, foi a partir desta herança pesadíssima com que todos nós nos confrontamos, em Abril de 74, para erguer um Pais novo, como aquele em que nós hoje vivemos.

A conquista da liberdade permitiu criar condições pelo reconhecimento dos partidos políticos  e com o empenho do MFA, o fim das guerras coloniais com o reconhecimento à independência dos respectivos Países para, no plano interno, de pronto se realizassem eleições livres que deram corpo a uma Assembleia Constituinte cuja função principal foi a criação de uma nova Constituição da República, documento que viria a ser aprovado pelo PS,PSD,PCP e MDP/CDE, com os votos contra do CDS, documento que consagrou, de entre outros, o corte com a censura, os direitos sociais, o reconhecimento das centrais sindicais, o direito a um salário, o acesso à educação por parte de todos os portugueses, a consagração do Serviço Nacional de Saúde. Longa tem sido a batalha para a fazer cumprir mas, apesar de todas as revisões a que tem sido sujeita por pressões da extrema direita e do centro direita, centradas em grande parte na privatização de empresas e serviços então nas mãos do estado, pressões às quais o PS se tem submetido, o principal, nas actuais circunstâncias continua lá contido.

Nos avanços e recuos a que a vida política do País tem sido submetido, convém sublinhar a importância para a modernização do País com a criação do poder local sem o qual em muitas localidades continuaria a faltar água e saneamento ou novas escolas, ou centros de saúde, ou equipamentos desportivos, ou parques temáticos como símbolos de defesa do ambiente, ou ainda e principalmente a aprovação, em debate democrático, de instrumentos de planeamento que deram corpo à ocupação racional do território.

Com todos os aspectos que a todos nos preocupa quanto a dependências e condicionamentos que hoje se colocam ao País, entre os quais a moeda única e o funcionamento e políticas decididas pelos órgãos da EU, alguns sem legitimação democrática, com a nossa entrada na EU, entrada que admito poderia ter sido negociada com maior determinação e conhecimento, dos recurso endógenos que urgia salvaguardar, o saldo quantitativo e qualitativo desta adesão é bastante positivo. Sem os fundos comunitários de ajuda a que tivemos acesso teria sido mais difícil e mais longo o tempo para reconstruir um País moderno que hoje, com todas as deficiências que não se ocultam, apesar de tudo, somos. É portanto a minha visão de balanço, marcadamente optimista mas, como todos os balanços, sujeito a toda a margem critica que entenderem aqueles que tiveram a paciência de o ler.

Uma última nota sobre o resultado da primeira volta das eleições presidenciais francesa dada a importância que de facto têm para o futuro da Europa. Macron e Le Pen confirmam nos resultados obtidos o que já revelavam as sondagens. O candidato saído do PSF ganha com margem curta à candidata da extrema-direita. Abre-se um período importante de negociações nas quais o resultado obtido por Malechon , candidato da esquerda, terá seguramente um papel importante para o desfecho final da segunda volta.

Carlos Figueira

[email protected]

NB: Defendo que o aeroporto de Faro se passe a chamar aeroporto do Algarve Manuel Teixeira Gomes

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