VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

Macau tinha ficado para trás no esplendor dos seus edifícios e na profusão dos seus casinos, a contrastar com um interior pobre, mas demonstrando uma dinâmica económica que não se pode ignorar.

O Vietnam assumia no quadro de toda a viagem uma curiosidade e uma expectativa singular. Era o País que tinha travado, ao longo de anos, contra a maior potência mundial, uma guerra e vencido, a guerra da minha geração. Num momento, ou num tempo, em que a globalização não entrava com os conceitos que hoje ocupa no mundo económico e financeiro, mas singularmente, num tempo no qual se realizavam manifestações de protesto em todo o mundo contra essa guerra e pela retirada dos americanos na ocupação do País.

Após ter ocupado durante vários anos a curiosidade do Mundo pela densidade de notícias que lhe diziam respeito, de repente, este País deixou ser notícia, o que acumulou a minha curiosidade e aumentou a minha expectativa. Afinal o que se passava?

Não se é rigoroso quando dispomos de três dias de permanência num País para debitarmos opiniões significativas sobre o mesmo. Deu entretanto para perceber que a Norte a actividade agrícola marcava posição importante dadas as condições que dispunha, prenha de terras alagadiças, obra do grande rio Mekong, o que lhe permite dispor de duas culturas anuais de arroz e assim se afirmando como o maior produtor mundial, cuja produção é, em 80% exportada para a China, enquanto a Sul, no antigo Saigão, agora Ho-Chi-Min, se concentra a indústria têxtil e calçado a produzir para as grandes marcas internacionais.

No plano político tem um sistema similar ao chinês. Partido único com uma economia aberta ao exterior. São decepcionantes todavia em todas as décadas percorridas após a conquista da independência e unificação do País, o atraso em infraestruturas. Percebendo-se que a aposta no turismo pode constituir um factor de aceleração do seu desenvolvimento, mas não se vai longe em tal propósito se para percorrer 140 km se levar quatro horas.

Ao percorrer Hanói, no seu interior, damo-nos conta do profundo atraso em que a capital se encontra, a expressão de pobreza que em cada rua é visível e é esse contraste que nos inquieta sobretudo confrontados nós perante o projecto de libertação que constitui a vitória histórica contra a maior potência militar e económica do Mundo de então.

É certo que o País não dispõe de significativos recursos naturais. Não tem petróleo e as reservas de ouro ou rubis, não assumem importância maior para apoio ao seu desenvolvimento percebendo-se que o turismo pode ser uma saída mas para que seja consistente requer infraestruturas que ainda não existem e levarão ainda alguns anos a serem construídas. E sem elas a taxa de retorno de quem visita o País possa ser pouco significativa, sobretudo para os europeus.

Nesse sentido, talvez o maior recurso seja a sua posição geográfica, sendo que já antes a dispunham o que significa face às expectativas por mim criadas, algo decepcionante.

Carlos Figueira

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