VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

 

Camboja fechou um ciclo de viagens a que poderíamos chamar do outro lado do Mundo para um Europeu já com alguma idade e que acabou por resistir mal à proluxidade dos fusos horários, às mudanças de alimentação, a que inevitavelmente se somaram dificuldades em acertar horas de sonos e por tal, os inevitáveis cansaços que acabaram por ter um desfecho final não só desagradável mas sobretudo preocupante. Felizmente, tudo acabou em bem.

Este País, o Camboja, de encerramento de viagem, foi a meu ver, o mais pobre e no qual, nas dificuldades que nos foram expostas, estão presentes as consequências de uma guerra devastadora promovida pelo Khmer Vermelho que conduziu ao massacre de milhares, protagonizada por crianças nessa matança sem sentido e sem projecto, numa radicalização obscena do que se poderia identificar, no plano ideológico, como um desaguar de um Maoísmo, como ideologia, já em plena decadência. Todo este sistema, com o auxílio da então União Soviética e do próximo Vietnam, terminou em 1996, o que em termos históricos significa anteontem.

À derrota do Khmer Vermelho sucedeu uma monarquia constitucional na qual o Rei tem funções de mera representatividade. Todo o poder está concentrado na Assembleia, que forma o executivo, dominada desde então, por um Partido que em sucessivas eleições governa com maiorias absolutas, o que significa na opinião de alguns, com quem tive oportunidade de dialogar, como expressão de receio do regresso do Khmer.

Camboja tem a sua capital em Phnom Penh mas a que mais atenções e turistas acolhe é Siem Reap, na qual estivemos. Região que dá acesso ao complexo de templos budistas de Angkor, Cidade com uma população de 18 milhões de habitantes e 6 milhões de motocicletas, o que faz do transito uma situação caótica, no qual não se respeitam nem sinais nem prioridades o que conduz do visitante ter de optar por um Tuc-Tuc para conhecer o que de maior interesse pode ser observado. É neste simples contraste que podemos reflectir sobre outros mais graves que a sociedade demonstra nos quais um dos mais chocantes é o facto de apesar do ensino ser gratuito em todos os escalões, todavia, não ser obrigatório, o que conduz, na sua pobreza, a que crianças que deveriam estar na escola, se dedicarem a esmolar um dólar a cada turista assumindo ,quiçá, o maior rendimento da unidade familiar.

No País a moeda que conduz compras e vendas é o dólar, o Euro não tem expressão, a não ser para comprar em alguns locais, nem sempre acessíveis, dólares.

O Camboja tem na produção de arroz, o terceiro mundial, atrás do Vietnam e da Tailândia, um dos seus maiores recursos, somados à madeira preciosa que dispõe na sua selvagem virgem e mais recentemente no turismo em torno dos seus templos históricos singularmente erguidos no seio dessa selva virgem que contornamos para lhe ter acesso, o que permite constatar que serão necessários vultuosos recursos financeiros para lhe ter acesso mas sobretudo no imediato para os manter visitáveis. Dizem-nos que dispões de cerca de 2000 templos recenseados em plena selva virgem mas só 170 estão em condições de serem visitáveis. Dificilmente os apoios de organizações internacionais e do próprio país, inverterão esta situação. Estamos em presença de décadas. Não tive acessos credíveis sobre a taxa de retorno de turistas ao local de visita e estância, mas falando e só sobre a minha exclusiva experiência, fiquei com a sensação de que uma vez a curiosidade cumprida, à qual não se volta.

Mas as viagens, seja qual for o seu sucesso, para cada um dos que as idealizou e realizou, são sempre momentos inesquecíveis de conhecimento de outras gentes e culturas, de reforço de amigos e da criação de novas amizades e, nesse sentido, para mim a viagem foi um êxito também porque o motivo mais importante, participar no Congresso da APAVT, sobre a evolução e os novos desafios que se colocam à actividade turistas do País, ai foram expostos com clareza. Resta enfrentá-los!

Carlos Figueira

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