VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

O comboio avariou! Momentos após ter arrancado da última estação. Do que me foi informado trata-se de uma situação recorrente. As velhas automotoras movidas a gasóleo, já de si desconfortantes, sujas e de bancos de pau, pintadas de grafites de mau gosto, tudo a fazer lembrar paisagens e serviços prestados a rondar o terceiro mundo, em plena União Europeia, na circunstância, percorrendo um traçado nas margens da maior região turística do País.

Parado que ficou, sem alternativas para quem nele viajava, embora poucos, mas tinham pago generosamente o seu bilhete e portanto direito a alguma recompensa, facto que não constava do manual de procedimentos da empresa.

Dos poucos passageiros que nele viajava encontrava-se um casal jovem, os dois em trabalho precário, pagos na proximidade do salário mínimo, com horários desencontrados, o que significou meses de espera, para que encontrassem, por fim, a coincidência de um dia em que ambos estivessem disponíveis, para um passeio longe da terra em que ambos habitavam. E agora? Perguntavam-se a si mesmo! No fundo para responder sobre o que fazer com um tempo que tinha deixado de ser tempo e espaço que tinham ardorosamente planeado ao longo de meses. Porque a natureza do trabalho precário em que cada um laborava, com horários desencontrados, dava quando muito para encontros fugazes, nos quais a ternura era absorvida, quantas vezes, pelo cansaço. A contra gosto decidiram ficar por ali na proximidade da cidade onde vivam, cada um, em casa dos respectivos pais. Eram exemplo dos muitos jovens que dada a natureza do trabalho precário e mal pago de que viviam, não lhes oferecer alternativas para uma vida a dois que ambos ambicionavam.

Desde há muito que se reclama e se promete por parte dos diversos governos a electrificação da via a fim de tornar o trajecto mais rápido e comodo para quem habita a periferia da região. A alternativa servida por transporta rodoviário é demasiadamente longa para quem se dispôs em fazer uma visita à capital da região, afastada que está pela morosidade e custos, em se arriscar a viajar de uma periferia atá ao fim da linha.

Significa que a rede de transportes que serve a região não corresponde de todo às necessidades de quem nela habita, quer quanto a deslocações de trabalho ou singularmente lúdica. O que sugere a pergunta aos diversos deputados eleitos por diferentes forças políticas na região, sobre que iniciativas têm tomado sobre esta magna questão. Infelizmente o Algarve não dispõe de um movimento cívico que responda, coloque com sistematização, perante os diversos poderes regionais e nacionais o que tem de ser feito para dar solução às importantes matérias em que a região se debate. Os montantes destinados à região neste último quadro de apoio são bem a demostração disso. Quem cá vive e trabalha espera que no quadro de apoio do próximo programa da EU, a partir de 2020, a justiça possa ser feita. Trata-se quiçá da última oportunidade.

Carlos Figueira

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